Ainda vale a pena investir em empresas de tecnologia?
Queridinhas dos brasileiros até 2021, as ações do setor despencam à medida que a Selic sobe e estão na berlinda da renda variável. Inteligência FinanceiraDivulgaçãoPara tentar conter a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) vem aumentando sucessivamente a taxa básica de juros (Selic). Com isso, as empresas de tecnologia listadas na Bolsa estão vendo os aportes minguarem e seus ativos despencarem. Em janeiro de 2022, para se ter ideia, a desvalorização chegou a 10%. Nesse contexto, os papéis que até o ano passado eram certeza de rentabilidade se tornaram dúvida e, em alguns casos, até desaconselhados. Convidamos Rob Correa, analista de investimentos e autor do livro “Guia de Sucesso do Investidor de Longo Prazo” para falar sobre o tema e apontar as perspectivas de curto e médio prazo, . 1. No período de pandemia, um dos setores que mais se valorizaram foi o de tecnologia. O que puxou os ativos dessas empresas para cima? O que vimos durante a pandemia foi uma valorização nunca antes protagonizada pelas empresas de tecnologia, e isso se deve a uma combinação de fatores além dos juros, no caso brasileiro, terem se mantido em um patamar relativamente estável e baixo no período, chegando a 2% em seu ponto mais crítico. Esse contexto foi favorável às empresas recorrerem à contração de crédito. O outro motivo se relaciona a uma demanda exponencial pelas funcionalidades oferecidas por essas companhias, aumentando sua receita e seu nível de exposição aos mercados. Um exemplo é o Zoom [serviço de conferência remota], que teve um crescimento de receita de quase 400% no ápice da crise sanitária, com as suas ações valorizando em proporções galopantes.2. Por que a contratação de crédito é fundamental para a sobrevivência das techs?Essa dependência ocorre por conta do modelo de negócio das companhias, que têm a essência de sua operação muito ligada ao crédito para financiar seu funcionamento. Como elas possuem um balanço altamente alavancado em razão da necessidade de Capex (despesas de investimento para manter o negócio competitivo), essas empresas, em termos mundiais, possuem uma forte correlação com a taxa básica de juros das economias às quais pertencem. 3. Qual a consequência da elevação da Selic para os ativos dessas empresas?Com uma Selic já precificada a 12,75%, as ações do setor enfrentam dias difíceis. Para se ter ideia, só em janeiro elas sofreram uma queda de 10%, que se acentua a cada pregão. Nesse contexto, o risco a ser pago pelo investidor pessoa física é muito caro. Como consequência, os investidores partem para a renda fixa ou para setores pagadores de dividendos, como o financeiro, empurrando as empresas tech para um poço de desvalorização frente ao mercado. 4. Na sua visão, esse processo de desvalorização vai se acentuar nos próximos meses? Por quê?Acredito que sim, e um agravante para a situação é que, com a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a equipe foi surpreendida pela alta do IPCA fora da projeção, o mercado tende a precificar uma taxa de juros acima de 13% nos próximos meses, elevando a desvalorização dos papéis tech. 5. É possível afirmar que o nível de risco dos papéis das empresas Tech aumentou? Como funciona essa dinâmica?A meu ver, por razões competitivas e econômicas, as ações do segmento aqui no Brasil são uma opção com um risco muito elevado e, por conta disso, devem compor uma pequena parte da carteira do investidor, que é a relacionada aos ativos de risco. Na minha visão, 5% é o máximo de comprometimento para reduzir o potencial de comprometimento do portfólio como um todo em contextos iguais aos que vivemos. 6. É momento de revisar a carteira? Quais são as sugestões para quem investe na renda variável?A minha recomendação para o investidor que deseja reduzir perdas e rebalancear sua carteira é que continue a aportar em várias classes de ativos e geografias, incluindo em sua estratégia uma porção de seu patrimônio investido no exterior. Com uma distribuição de ativos adequada ao seu perfil de e um controle do capital relacionado aos investimentos de risco, o investidor consegue se blindar de crises e estar mais perto de atingir seus objetivos de tranquilidade financeira.7. Os investimentos no exterior podem incluir aportes para empresas tech?No exterior, essas empresas sofrem a mesma dinâmica com relação às taxas de juros às quais estão submetidas; porém, as vantagens competitivas de empresas do setor, principalmente americanas, tendem a ser maiores. Com o Fed ameaçando subir os juros pelo menos cinco vezes em 2022, é importante saber que as empresas dessa ordem sofrerão impactos negativos. Também é interessante se atentar que elas fazem parte de uma estratégia de crescimento, e normalmente não distribuem dividendos, tão queridos por nós brasileiros.8. Para você, inteligência financeira é
Construir uma estratégia que dê ao investidor a tranquilidade de poder realizar seus projetos pessoais e proteger o futuro de sua família contra crises, sem ter que abrir mão do que é mais importante na vida: o tempo.Para acompanhar a dinâmica do mercado e entender o sobe e desce das ações, siga a Inteligência Financeira. Lá você encontra análises, entrevistas e a cobertura completa da economia brasileira e internacional.