Dom Phillips: jornalista fazia trabalho voluntário, teve embate com Bolsonaro e sentia 'amor profundo' pela Amazônia

Dom Phillips: jornalista fazia trabalho voluntário, teve embate com Bolsonaro e sentia 'amor profundo' pela Amazônia
Britânico escrevia para o jornal 'The Guardian' e terminava livro 'Como salvar a Amazônia?'. Segundo a PF, suspeito preso disse que jornalista e o indigenista Bruno Pereira foram assassinados. Dom Phillips pretendia entrevistar fazendeiros e garimpeiros em seu livro sobre a Amazônia, diz a esposa do britânico

Arquivo pessoal via BBC

O indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal 'The Guardian', desapareceram na Amazônia no dia 5 de junho.

O g1 conta, nesta reportagem, quem era o correspondente britânico. Segundo a Polícia Federal, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, que foi preso, disse que Dom e Bruno foram assassinados.

Dom Phillips era natural do condado de Merseyside, região onde fica a cidade de Liverpool, no noroeste inglês. Ele mudou-se para o Brasil em 2007. Além de jornalista, Dom compartilhava seu conhecimento fazendo trabalho voluntário como professor de inglês em uma comunidade de Salvador, onde morava com sua esposa, Alessandra Sampaio.

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Carreira no jornalismo

Dom Phillips começou a carreira como jornalista cultural. Nos anos 1990, foi repórter e editor de uma revista de música eletrônica no Reino Unido. Em 2007, já no Brasil, passou a ser colaborador de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do mundo. Ele escrevia reportagens, muitas vezes, sobre questões ambientais do país e os problemas enfrentados pela população indígena.

Veterano em coberturas internacionais, Phillips já foi colaborador dos jornais "Washington Post", "The New York Times" e "Financial Times", e está no Brasil há aproximadamente 15 anos.

Segundo o "The Guardian", veículo para o qual escrevia com mais frequência, o jornalista ficou conhecido por seu amor pela região amazônica e viajava pela região a fim de relatar a crise ambiental brasileira e os problemas de suas comunidades.

Relação com a Amazônia

O jornalista declarava seu amor pela floresta amazônica nas redes sociais. “Amazônia sua linda”, diz a legenda de uma postagem sua onde aparece em um barco na região. O inglês estava escrevendo um livro sobre a floresta amazônica e sua autossustentabilidade. O nome seria "Como salvar a Amazônia?".

Quatro capítulos já estavam escritos. Em sua última expedição, ele pretendia fazer entrevistas para completar a obra. Em entrevista ao Fantástico, a mulher de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, tentou explicar qual a relação do marido com a Amazônia.

“Um amor profundo. Desse amor, um respeito, uma fascinação e interesse de entender aquela complexidade", disse Alessandra.

Encontro com Jair Bolsonaro em 2019

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Em 2019, durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, Dom questionou o presidente Jair Bolsonaro sobre a preservação da Amazônia.

“Os novos números de desmatamento estão mostrando um crescimento assustador. O Ibama está dando menos multas e fazendo menos operações. (...) Como o senhor presidente pretende convencer, mostrar para o mundo que realmente o governo tem uma preocupação séria com a preservação da Amazônia?”, perguntou.

“Primeiro, você tem que entender que a Amazônia é do Brasil e não é de vocês”, respondeu Bolsonaro. O presidente chegou a postar um vídeo com a pergunta, mais de dois anos depois do encontro, classificando a pergunta de Dom como 'cobiça'.

A expedição no Vale do Javari

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No dia 1º de maio, o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips se encontram na cidade de Atalaia do Norte (AM), na região da terra indígena Vale do Javari, perto da fronteira com o Peru, onde são comuns invasões de terras feitas por madeireiros e garimpeiros.

Bruno chegou ao local algumas semanas antes do encontro com Dom. Seu objetivo era fazer reuniões em cinco aldeias sobre a proteção do território. O inglês pretendia fazer entrevistas com lideranças indígenas e ribeirinhos para o novo livro. Os dois, então, passam a viajar juntos de barco.

No dia 6 de junho o desaparecimento é divulgado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).