Crise política no Iraque: apoiadores de líder xiita ocupam o Parlamento

Crise política no Iraque: apoiadores de líder xiita ocupam o Parlamento
Esta é a segunda invasão do Parlamento somente esta semana. Críticas se voltam, principalmente, à corrupção. Manifestantes invadem uma das sedes do governo iraquiano como forma de protesto

Ahmed Saad/REUTERS

Milhares de simpatizantes do influente líder político xiita Moqtada al-Sadr invadiram neste sábado (30) o Parlamento iraquiano, que pretendem ocupar até segunda ordem, após mais um dia de manifestações em um país em plena crise política. Esta é a segunda invasão do Parlamento esta semana.

Exibindo bandeiras iraquianas ou com símbolos religiosos, além de retratos de Moqtada al-Sadr, milhares de manifestantes lotaram o hall de entrada do Parlamento antes de invadir a sala onde são realizadas as sessões. Fazendo sinais de vitória, eles tiraram selfies "em um ambiente descontraído", informaram jornalistas da AFP no local.

Manifestantes invadem uma das sedes do governo iraquiano como forma de protesto

Thaier Al-Sudani/REUTERS

O impasse político é total no Iraque, que aguarda a nomeação de um novo presidente e um primeiro-ministro, dez meses após as eleições legislativas de outubro de 2021. De grande influência popular e no cenário político, Moqtada al-Sadr lançou uma campanha de grande pressão contra seus adversários, rejeitando o candidato da oposição ao cargo de chefe de governo.

Na quarta-feira (27), os manifestantes ocuparam por um curto período o Parlamento, mas neste sábado anunciaram "um protesto [que irá durar] até novo aviso", de acordo com um breve comunicado do movimento Corrente Sadrist.

Manifestantes invadem uma das sedes do governo iraquiano como forma de protesto

Ahmed Saad/REUTERS

Deitados sobre os tapetes dos corredores, encostados nos pilares, alguns manifestantes passavam o tempo em seus celulares. Outros se abanavam com pedaços de caixas de papelão ou tiraram as camisas, devido aos 46°C na capital iraquiana neste sábado.

"Um governo corrupto e incapaz"

Nesta manhã, milhares de manifestantes se reuniram em frente a uma ponte em Bagdá e escalaram os blocos de concreto que haviam sido erguidos para bloquear o acesso, conseguindo entrar na zona verde, apesar das forças de segurança dispararem bombas de gás lacrimogêneo e usarem jatos d'água para conter a multidão.

Os manifestantes rejeitam a candidatura ao cargo de primeiro-ministro de Mohamed Chia al-Soudani, considerado próximo do ex-chefe de governo Nouri al-Maliki, inimigo histórico de Sadr.

Manifestantes invadem uma das sedes do governo iraquiano como forma de protesto

Saba Kareem/REUTERS

Nos jardins do Parlamento, Sattar al-Aliawi, de 47 anos, disse que estava se manifestando contra "um governo corrupto e incapaz" que, em sua opinião, seria formado por opositores de Sadr. "Não queremos Soudani", insiste o trabalhador. "O povo recusa totalmente os partidos que governam o país há 18 anos", ele diz. "Faremos uma concentração no Parlamento, vamos dormir aqui".

Ex-ministro e ex-governador de província, Soudani, de 52 anos, é o candidato do "Quadro de Coordenação", uma aliança de facções xiitas pró-Irã, que reúne a formação do ex-primeiro-ministro Nouri al-Maliki e representantes do Hachd al-Chaabi, ex-paramilitares integrados às forças regulares.

“Defender o Estado e sua legitimidade"

Manifestantes invadem uma das sedes do governo iraquiano como forma de protesto

Thaier Al-Sudani/REUTERS

Se hoje ele decide manter a pressão sobre seus adversários, antes Sadr havia deixado a eles a tarefa de formar um governo. Em junho, 73 deputados de seu grupo, que eram a maior força no Parlamento, renunciaram.

Em comunicado neste sábado, o Quadro de Coordenação criticava os "ataques às instituições constitucionais" após as invasões ao Parlamento. A coalizão, por sua vez, convocou "as massas populares (...) a se manifestarem pacificamente para defender o Estado e sua legitimidade".

“Continuar a escalada política aumenta as tensões nas ruas”, lamentou o atual primeiro-ministro Moustafa al-Kazimi em comunicado. Pelo menos 100 manifestantes e 25 membros das forças de segurança ficaram feridos neste sábado durante as manifestações, informou o Ministério da Saúde.

"Estamos aqui para uma reforma revolucionária (...) para tornar vitorioso o povo e Sayyed Moqtada al-Sadr, o líder", declarou neste sábado o manifestante Haydar al-Lami, no centro de Bagdá. "Não queremos os corruptos e não queremos tentar de novo com os que já vimos "no poder, acrescentou. "Eles não nos trazem nada, desde 2003 até agora são os mesmos, eles nos trazem prejuízos."

Durante a noite desta sexta-feira (29) para sábado, apoiadores de Sadr saquearam os escritórios do partido Daawa, de Maliki, em Bagdá, além das instalações da Corrente Hikma, o partido do político Ammar al-Hakim, que faz parte do Quadro de Coordenação, de acordo com informações de uma fonte de segurança.