Irã bloqueia acesso a redes sociais por protestos por véu islâmico

Irã bloqueia acesso a redes sociais por protestos por véu islâmico
Manifestações, que eclodiram por morte de jovem após se presa por usar hijab de forma "inadequada", já deixaram 17 mortos, segundo balanço oficiail. Instagram e Whatsapp foram bloqueados no país. Protestos tomam conta das ruas de Teerã, no Irã

WANA (West Asia News Agency) via REUTERS

As autoridades iranianas bloquearam nesta quinta-feira (22) o acesso ao Instagram e ao WhatsApp no país por conta dos protestos pela morte de uma jovem detida pela chamada "polícia da moralidade". Os distúrbios, que já duram seis dias, deixaram 17 vítimas fatais em diferentes regiões do Irã.

As manifestações eclodiram após a jovem, de 22 anos, ser hospitalizada e morrer enquanto estava sob custódia policial por não usar o véu "adequadamente". O governo iraniano ainda não esclareceu quais foram as causas da morte, que incitou um movimento sem precedentes no país contra a repressão às mulheres e à chamada "polícia da moralidade" que existe no Irã.

Pela lei iraniana, que é baseada na Sharia - uma interpretação jurídica do Corão -, as mulheres devem usar o hijab, um tipo de véu islâmico que cobre a cabeça, o cabelo e o pescoço.

"Por decisão das autoridades, não é mais possível acessar no Irã o Instagram desde quarta-feira à noite. O acesso ao WhatsApp também foi interrompido", anunciou a agência iraniana Fars.

A medida foi adotada por causa "das ações realizadas pelos contrarrevolucionários contra a segurança nacional por meio destas redes sociais", acrescentou a Fars.

Desde o início das manifestações, as conexões com a internet ficaram mais lentas e as autoridades bloquearam em seguida o acesso ao Instagram e WhatsApp.

Instagram e WhatsApp são os aplicativos mais utilizados no Irã após o bloqueio nos últimos anos de plataformas como YouTube, Facebook, Telegram, Twitter e Tiktok. Além disso, o acesso à internet é amplamente filtrado ou restrito pelas autoridades.

A morte de Mahsa Amini, de 22 anos, foi muito criticada por países e várias Organizações Não Governamentais (ONGs) internacionais, que denunciaram a repressão "brutal" contra os manifestantes. A Anistia Internacional denunciou o "uso ilegal de balas de borracha, balas letais, gás lacrimogêneo, jatos d'água e cassetetes para dispersar os manifestantes".

"Dezessete pessoas, incluindo manifestantes e policiais, morreram nos eventos dos últimos dias", anunciou a televisão estatal, sem revelar mais detalhes. As autoridades iranianas negaram qualquer envolvimento na morte dos manifestantes.

Entenda como morte de jovem por causa de véu desencadeou protestos no Irã

A jovem Mahsa Amini, natural do Curdistão (noroeste), foi detida em 13 de setembro em Teerã acusada de "usar roupa inapropriada" pela polícia da moral, uma unidade responsável por observar o cumprimento do rígido código de vestimenta. Ela morreu em 16 de setembro em um hospital.

De acordo com ativistas, Mahsa Amini foi agredida de maneira fatal na cabeça, mas as autoridades iranianas negaram e a anunciaram a abertura de uma investigação.

As manifestações começaram logo depois do anúncio de sua morte, e foram registradas em 15 cidades do país.

Na quarta-feira, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, o presidente americano Joe Biden expressou solidariedade às "mulheres corajosas" do Irã, após um discurso desafiador do presidente iraniano Ebrahim Raisi.

Mulher corta o cabelo em público como forma de protesto no Irã

Yasin AKGUL / AFP

'Contrarrevolucionários'

No sul do Irã, vídeos aparentemente de quarta-feira mostram os manifestantes queimando um grande retrato do general Qassem Soleimani, morto em um ataque americano no Iraque em janeiro de 2020.

Em outros pontos do país, os manifestantes incendiaram viaturas policiais e gritaram frases contra o governo, segundo a agência Irna. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo e várias detenções.

Outras imagens mostram os manifestantes resistindo à forças de segurança. Vídeos que mostram mulheres ateando fogo em seus véus viralizaram no país.

'Uma opção'

"Não ao véu, não ao turbante, sim à liberdade e à igualdade", gritaram os manifestantes em Teerã, uma frase repetida em atos de solidariedade em Nova York ou Istambul.

Mahtab, uma maquiadora de 22 anos com um véu laranja que revelava seus cabelos, declarou em Teerã que "o véu dever ser uma opção, não deve ser imposto".

As manifestações representam um "abalo muito importante no Irã e uma crise social", declarou à AFP David Rigoulet-Roze, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), que tem sede na França.