Protestos no Peru: entenda a crise política, quem são os manifestantes e a escalada da violência

Protestos no Peru: entenda a crise política, quem são os manifestantes e a escalada da violência
Confrontos já deixaram mais de 50 mortos no país. Nesta quinta-feira, houve a maior manifestação na capital, Lima, desde que os atos começaram. Muitas pessoas de fora da cidade viajaram para participar dos atos, num movimento que foi chamado de "tomada de Lima". Onda de protestos no Peru atinge Lima

Milhares de pessoas foram às ruas em cidades do Peru nesta quinta-feira (19) para pedir a saída da presidente do país, Dina Boluarte. Foi a maior manifestação na capital Lima desde que os protestos começaram, em dezembro.

Muitas pessoas de fora da cidade viajaram para participar dos atos, em um movimento que foi chamado de "tomada de Lima". Manifestantes e policiais entraram em confrontos pontuais.

Durante a noite, os confrontos se tornaram mais sérios. Um incêndio atingiu um prédio perto de uma praça histórica na cidade. Ainda não se sabe se o incêndio tem alguma relação com as manifestações.

Veja neste texto:

Quem são os manifestantes

Quem são os apoiadores de Castillo

O que causou os protestos

Onde os protestos mais acontecem

O que pedem nos protestos

O que está acontecendo nas manifestações

Manifestantes pedem a saída da presidente Dina Boluarte, do Peru, na cidade de Ollantaytambo

Alejandra Orosco/Reuters

Desde o começo das manifestações, confrontos entre manifestantes e forças de segurança deixaram cerca de 50 mortos.

Os manifestantes querem mudanças políticas e também que haja responsabilização pelas mortes.

Quem são os manifestantes?

Os manifestantes são pessoas que se opõe à atual presidente, Dina Boluarte. Na quinta-feira, muitos deles usavam camisetas contra ela e pediam a renúncia, além de novas eleições.

Muitas pessoas viajaram de regiões mais remotas do Peru até Lima. Parte dos manifestantes tem a mesma origem de Pedro Castillo, o presidente que foi removido do cargo em dezembro: comunidades rurais nas montanhas dos Andes.

Manifestação em Ollantaytambo, no Peru, em 19 de janeiro de 2023

Alejandra Orosco/Reuters

Nas regiões do sul do país, onde há mais comunidades rurais, as manifestações começaram pouco depois da queda de Castillo (veja mais abaixo).

A população do Peru é muito dividida entre essas comunidades, mais pobres, e as elites, que estão em grande parte concentradas em Lima.

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Quem são os apoiadores de Castillo?

Castillo, um socialista, venceu eleições em 2021. O Peru já vivia anos de crises políticas e foi um dos países mais atingidos do mundo pela pandemia de Covid-19.

O presidente do Peru, Pedro Castillo, em traje típico andino, discursa em Juliaca, na região de Puno, durante a campanha eleitoral

Carlos Mamani/AFP

Castillo era um professor e sindicalista pouco conhecido de uma aldeia andina pobre, e não tinha experiência em cargos eletivos ou vínculos com o establishment de Lima.

Os partidários de Castillo tinham grandes esperanças de que ele pudesse representar mais os peruanos pobres, rurais e indígenas que enfrentaria as elites.

Uma vez no cargo, no entanto, seu apoio caiu. Ele enfrentou escândalos de corrupção, brigas partidárias e oposição no Congresso. Castillo lutou para governar, nomeando cinco primeiros-ministros e mais de 80 ministros durante sua curta presidência.

Ainda assim, Castillo manteve apoiadores, que o veem como uma vítima das elites políticas e de um Congresso amplamente impopular e considerado corrupto. O índice de aprovação de 27% de Castillo em uma pesquisa IPSOS de novembro ainda era superior aos 18% do Congresso.

O que causou os protestos?

As manifestações começaram depois que o Congresso derrubou o presidente Pedro Castillo, no dia 7 de dezembro. Castillo foi preso e condenado a uma pena inicial de 18 meses.

Ainda quando era presidente, ele era investigado em diversos processos. Castillo, então, tentou dissolver o Congresso. Sem apoio do exército, do Judiciário e do Legislativo, ele foi derrubado e preso horas depois.

A vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu o cargo.

Onde os protestos mais acontecem?

Até a quinta-feira, quando houve a "tomada de Lima", os protestos ocorriam principalmente no sul do país, que é mais pobre e, politicamente, mais de esquerda que o resto do Peru. As regiões do sul também foram o epicentro e o local da pior violência.

A região majoritariamente indígena esteve durante séculos em desacordo com a capital Lima, mais mestiça e mais branca, que por muito tempo dominou a política nacional. Castillo foi apenas o segundo presidente nascido fora de Lima a ser eleito desde 1956.

Embora a pobreza tenha diminuído nas últimas décadas, persiste uma lacuna nos padrões de vida entre a região e a capital. Apesar da riqueza local de cobre e gás no sul, indicadores como expectativa de vida e mortalidade infantil ficam atrás dos de Lima.

O sul do Peru também abriga destinos turísticos economicamente e culturalmente importantes, como Cusco e Puno.

O que pedem nos protestos?

Os manifestantes querem a renúncia de Boluarte, o fechamento do Congresso, uma nova Constituição e a libertação de Castillo.

Também houve marchas que pedem o fim da agitação política.

Grupos de direitos humanos acusam as autoridades de usar armas de fogo contra os manifestantes e de usar helicópteros para jogar bombas de fumaça.

O exército afirma que os manifestantes usaram armas e explosivos caseiros.

Em 10 de janeiro, a Procuradoria do Peru afirmou que começou a investigar Boluarte e pessoas do governo dela por “genocídio, homicídio qualificado e ferimentos sérios” relacionados à reação aos protestos.

O que está acontecendo nas manifestações?

Os manifestantes bloquearam rodovias, incendiaram prédios e invadiram aeroportos. Isso implicou prejuízos de milhões de dólares e perda de receitas. Os bloqueios interromperam o comércio, suspenderam voos e trouxeram problemas para os turistas.

As forças de segurança responderam com violência e acabaram atacando civis que não estavam protestando.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou a violência tanto das forças de segurança quanto dos manifestantes e pediu diálogo. Os manifestantes até agora se recusaram a dialogar com Boluarte.