Cresce número de espiões russos presos na Europa

Cresce número de espiões russos presos na Europa
Escândalo de espionagem mais recente redunda em sentença de prisão perpétua na Suécia. Casos dos últimos seis anos, do norte ao sul do continente, incluem "brasileiro" presumivelmente a serviço de Moscou na Noruega. Juiz Mans Wigen concede entrevista à imprensa após o veredito do caso de dois irmãos suecos condenados por espionagem para a Rússia.

Jonathan Nackstrand/AFP

As detenções de europeus acusados de espionagem relacionada com a Rússia aumentaram nos últimos anos. O episódio mais recente culminou numa sentença de prisão perpétua na Suécia por "espionagem agravada".

Na quinta-feira (19), a Justiça sueca condenou Peyman Kia, de 42 anos, à prisão perpétua por espionar para Moscou e seu serviço de informações militar, GRU, durante uma década. O irmão do réu foi sentenciado a nove anos e dez meses por cumplicidade no crime.

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"Os irmãos, de forma conjunta e concertada, sem autorização e com o objetivo de servir a Rússia e o GRU, adquiriram, transmitiram e divulgaram informações cuja divulgação a uma potência estrangeira pode afetar a segurança da Suécia", justificou o tribunal.

O ex-agente de informações sueco Kia recolheu informações sigilosas que o irmão mais novo entregou ao GRU, entre 2011 e 2021. Durante esse período, o principal condenado serviu as forças de segurança suecas, Säpo, bem como o serviço secreto militar.

O escândalo de espionagem foi descrito como o maior da história recente do país e um sinal de infiltração da espionagem russa no coração dos serviços secretos da Suécia.

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Espionagem para além de todas as fronteiras nacionais

Uma lista dos casos de espionagem – comprovados ou de suspeita – tornados públicos na Europa nos últimos seis anos atravessa todo o continente.

Em janeiro de 2022, a Alemanha prendeu e acusou formalmente um cidadão russo de passar para a inteligência russa informações sobre o foguete de lançamento espacial Ariane, da Agência Espacial Europeia (ESA). Ele trabalhara como assistente de pesquisa numa universidade na Baviera até junho de 2021, quando foi detido.

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Um funcionário do Serviço de Informações de Segurança (SIS) de Portugal foi condenado em fevereiro de 2018 a sete anos e quatro meses de prisão por espionagem para a Rússia. Frederico Carvalhão Gil tinha sido detido no ano anterior em Roma na companhia de um funcionário dos serviços secretos russos, Sergei Pozdniakov, a quem teria vendido documentos confidenciais sobre a segurança da União Europeia e da Otan.

Na Itália, um oficial da Marinha que foi detido em março de 2021 por atos de espionagem, junto com um oficial russo a quem entregava documentos secretos.

No mesmo ano, em 19 de março, a Bulgária anunciou um "caso sem precedentes" em sua história recente, com a prisão de seis suspeitos de espionagem para Moscou, incluindo vários elementos do Ministério da Defesa.

Eles são acusados de ter fornecido informações sigilosas a um alegado chefe da rede e antigo quadro dos serviços de informações, com quem se encontravam em locais públicos, sobretudo em jogos de tênis. A esposa do suposto líder da rede, de dupla nacionalidade russa e búlgara, teria sido a intermediária com Moscou, segundo a acusação.

A lista prossegue na Áustria, onde um coronel na reserva foi condenado a três anos de prisão em junho de 2020 por ter transmitido, entre 1992 e 2018, informações sobre o sistema de armamento austríaco e o organograma das Forças Armadas, em troca de 280 mil euros.

A contraespionagem da Polônia prendeu, por sua vez, em março de 2018, um funcionário do Governo, que acabou por ser condenado a três anos de prisão por ter fornecido à Rússia informações sobre a posição do seu país em relação ao gasoduto Nord Stream 2, ligando a Rússia à Alemanha.

Bela Kovacs, ex-deputado de extrema direita (2010-2019) da Hungria, foi igualmente condenado a cinco anos de prisão em setembro de 2022 por atos de espionagem contra as instituições da União Europeia em favor da Rússia, entre 2012 e 2014. O homem de 62 anos rejeitou as acusações e acompanhou o caso de Moscou, para onde fugiu após seu julgamento em primeira instância, em 2020.

Outro ex-deputado, este da Moldávia, foi preso em março de 2017, acusado de ter sido recrutado pela polícia secreta militar russa e de ter fornecido em 2016 e 2017 informações "que poderiam ser usadas contra os interesses da Moldávia". Iurie Bolboceanu foi condenado em março de 2018 a 14 anos de prisão por "alta traição".

Países bálticos e um "brasileiro"

A lista de condenações prossegue na Letônia. Ao contrário de outros casos, este não envolve um alto quadro ou funcionário institucional, mas um mero ferroviário, condenado em maio de 2018 a 18 meses de prisão por ter transmitido informações classificadas para a Rússia.

Na Estônia, dois cidadãos igualmente enfrentaram a Justiça por espionagem. Ilya Tikhanovski, profissional de tecnologias de informação, foi condenado a quatro anos de prisão em abril de 2018 por passar informações de segurança nacional para os serviços militares russos.

Em outubro de 2017, Albert Provornikov, cidadão estônio e russo, foi também condenado a três anos de prisão por fornecer ao Serviço Federal de Segurança da Rússia informações sobre a polícia e postos de guarda de fronteira no sul da Estônia.

Em fins de outubro de 2022, na cidade de Tromsø, no norte da Noruega, a agência de segurança doméstica deteve, por suspeita de espionagem para a Rússia, um homem que entrara no país se dizendo pesquisador e cidadão brasileiro. Sem ter cidadania russa nem norueguesa, ele chegou ao país em 2021. Desde então vinha pesquisando ameaças híbridas e as regiões do norte. A fronteira ártica da Rússia com a Noruega, país-membro da Otan, tem 198 quilômetros de extensão.

(Com informações de AFP, Lusa, AP e DPA)