França enfrenta 10º dia de protestos contra a reforma da Previdência

França enfrenta 10º dia de protestos contra a reforma da Previdência
Torre Eiffel e Museu do Louvre ficaram fechados por causa das greves; catadores de lixo anunciaram fim da paralização da categoria. Governo mobilizou 13 mil policiais para conter 'radicais' nos protestos. Um manifestante incendeia uma lata de lixo em Paris durante protesto contra a reforma da previdência na França, em 28 de março de 2023

REUTERS/Gonzalo Fuentes

A França tem nesta terça-feira (28) a 10ª jornada de protestos contra a reforma da Previdência adotada pelo governo do presidente liberal Emmanuel Macron, que busca uma solução para o cada vez mais violento conflito social, mas sem cogitar a retirada da lei impopular.

As manifestações começaram pacificamente pela manhã, com grandes multidões em várias cidades. Mas as tensões aumentaram durante uma marcha majoritariamente pacífica na capital francesa, com um confronto entre a polícia e ultraesquerdistas que atiraram projéteis e outros objetos contra policiais.

Protestos contra a reforma da Previdência na França

Desde 19 de janeiro, data da primeira manifestação, os manifestantes conseguiram mobilizar centenas de milhares de pessoas (3,5 milhões nos dias 7 e 23 de março, segundo o sindicato CGT) em grandes protestos pacíficos, mas sem sucesso para convencer o governo.

As centrais sindicais pedem a retirada da reforma, que aumenta a idade de aposentadoria a partir de 2030 e antecipa para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos (e não 42 como atualmente) para que o trabalhador tenha direito a uma pensão integral.

Laurent Berger, líder do sindicato CFDT, afirmou que aceitaria negociar, mas apenas se o governo deixar a reforma de lado, em particular o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos.

Macron e a primeira-ministra, Élisabeth Borne, anunciaram que estão dispostos a conversar com os sindicatos, que lideram os protestos desde janeiro, mas sem ceder na reivindicação para que o governo desista da reforma.

13.000 agentes

Para esta terça-feira, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou um "dispositivo de segurança inédito" de 13.000 agentes no país e advertiu para a presença em Paris de "mais de 1.000 radicais, alguns procedentes do exterior".

As autoridades esperavam "de 650.000 a 900.000" manifestantes". O sindicato CGT relatou uma diminuição no número de manifestantes de Paris nesta terça-feira, após um recorde de 800.000 cinco dias antes. Os números oficiais, sempre muito mais baixos, não estavam imediatamente disponíveis.

Os trens circulavam com atraso em todo país. Na capital, o transporte público registrava "perturbações", segundo a operadora RATP.

Situação explosiva

Os protestos assumiram várias formas nas últimas semanas: milhares de toneladas de lixo acumuladas nas ruas de Paris, bloqueios de depósitos e refinarias que deixaram 15% dos postos de gasolina sem combustível, entre outros.

O site da Torre Eiffel anunciou que os grevistas fecharam a atração turística mundialmente famosa. O Museu do Louvre foi igualmente fechado para greve na segunda-feira.

Os trabalhadores de saneamento em Paris anunciaram que estão suspendendo sua greve de mais de três semanas. O sindicato CGT, que organizou as greves, disse em um comunicado que os trabalhadores retornarão aos seus empregos na quarta-feira (29).

As manifestações do dia 23 terminaram com 457 detidos e 441 policiais e agentes de segurança feridos, em sua maioria nos distúrbios que aconteceram após as passeatas que reuniram mais de um milhão de pessoas em todo o país, segundo as autoridades.

A decisão de Macron de adotar o projeto por decreto, por temer uma derrota durante a votação no Parlamento, e sua recusa a voltar atrás provocaram a radicalização dos protestos, com distúrbios registrados desde 16 de março.

À espera da decisão do Conselho Constitucional sobre a validade da reforma, o governo tenta virar a página para outras prioridades, como saúde e educação, e a tentativa de garantir uma maioria estável no Parlamento.

Os sindicatos já haviam alertado Macron há algumas semanas para a situação explosiva que seria registrada se o governo não considerasse o mal-estar provocado pela reforma, rejeitada por mais de dois terços dos franceses, de acordo com as pesquisas.