Entenda o que acontecerá com as eleições no Equador após assassinato de candidato

A comoção gerada pelo assassinato de Fernando Villavicencio tem potencial para mudar os rumos eleitorais do Equador, onde a esquerda era favorita para vencer a votação para presidente.

Entenda o que acontecerá com as eleições no Equador após assassinato de candidato
A comoção gerada pelo assassinato de Fernando Villavicencio tem potencial para mudar os rumos eleitorais do Equador, onde a esquerda era favorita para vencer a votação para presidente. Atentado no Equador: Entenda o contexto político do país

Quando o candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado, na quarta-feira (9) à noite, a esquerda era a favorita para vencer a votação marcada para o dia 20. De acordo com analistas, nos próximos dias a situação pode mudar muito.

Villavicencio foi baleado já dentro de seu carro, quando estava deixando um comício político na cidade de Quito. Antes de ser candidato, ele foi sindicalista, jornalista e deputado federal. Nas últimas pesquisas, ele aparecia em 5º lugar na corrida presidencial. Até agora, foram presos seis suspeitos de terem executado o crime.

O candidato era um político contrário ao "correísmo" (veja mais abaixo), a principal corrente de esquerda no Equador. Agora, provavelmente os "anticorreístas" devem ganhar alguma força eleitoral.

O partido de Villavicencio ainda não indicou um substituto e nem se vai seguir com um candidato próprio.

Partido do próprio Villavicencio

De acordo com a legislação eleitoral do país, a coligação de Villavicencio, o Movimiento Construye, pode inscrever um novo candidato após a morte do cabeça de chapa

No entanto a vice da chapa, Andrea González, não pode assumir, de acordo com um texto do jornal "El Universo".

A questão é, em parte, o tempo: o grupo político precisa fazer isso rapidamente, porque a Justiça Eleitoral precisa executar todos os trâmites para que a nova candidatura seja aprovada.

Caso isso aconteça, haverá ainda um outro problema: as cédulas já foram impressas com o nome e a foto de Villavicencio. A solução prevista é que os mesários deverão avisar os eleitores quem será o beneficiado pelos votos.

Candidato à presidência do Equador é assassinado

Eleições polarizadas

Pelas pesquisas, Villavicencio não tinha boas chances de chegar ao segundo turno, de acordo com Gustavo Menon, professor da Universidade Católica de Brasília e autor do livro "A Revolução Cidadã no Equador".

"Com a eliminação de um dos candidatos da direita no país, é altamente provável que haja uma reconfiguração das forças políticas que beneficie Jan Topic, um outro político de direita que tem um programa mais alinhado com às políticas do atual presidente, Guillermo Lasso", afirma Menon.

Durante seu mandato como deputado, Villavicencio foi um aliado do atual presidente, Lasso, na Assembleia Nacional.

O 'correísmo'

O ex-presidente Rafael Correa é a principal figura da esquerda no país. A candidata que lidera as pesquisas, Luisa Gonzáles, é uma aliada de Correa.

Assim como Villavicencio, Topic é contrário ao "correísmo" (o alinhamento a Correa). O partido de Villavicencio até mesmo insinuou que os adversários políticos deveriam ser investigados pelo crime, sem apresentar nenhuma prova que embasasse isso.

Com o assassinato, a situação muda, afirma Menon: "Até a morte de Villavicencio, o debate era se o correísmo teria votos suficientes para ganhar já no primeiro turno. Com esse episódio, o jogo politico muda completamente".

A candidata que lidera as pesquisas, Luisa Gonzáles, já passou a falar mais sobre segurança em seu discurso, segundo Menon.

As respostas para a comoção

Além do "correísmo" e do "anticorreísmo", há uma terceira força no país: os grupos indígenas. Nos últimos anos esses grupos se organizaram politicamente, e um candidato que os representa, Yaku Perez, é muito competitivo --até recentemente, ele aparecia em segundo lugar nas pesquisas.

O correísmo e os candidatos ligados aos indígenas não devem se beneficiar com a comoção em torno da segurança, afirma Salvador Schavelzon, professor do programa de integração latino-americana da USP e professor da Unifesp.

A segurança ganhou um tom de urgência, e temas sociais e ambientais perderam força (há dois referendos no dia da votação para presidente; uma sobre exploração de petróleo em uma área indígena e outra sobre exploração mineral perto de Quito).

Quem tende a se beneficiar dessa comoção, segundo Schavelzon, é mesmo a direita e a extrema direita, que já vinham ganhando força no Equador (e nos países da região, ele salienta).

Pesquisas podem ser determinantes

Para Menon, as primeiras pesquisas logo após a morte de Villavicencio devem ser cruciais para determinar as eleições: se ficar claro que Topic está ganhando embalo, o movimento nos dias finais deverá ser muito significativo, segundo ele.

Segundo o cientista político, se houver uma indicação que Topic pode derrotar o Luisa Gonzáles em um segundo turno, ele deve ganhar mais eleitores.