IMAGENS: O Afeganistão sob um novo foco

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IMAGENS: O Afeganistão sob um novo foco
Fotógrafo utiliza técnica de fotografia antiga do país para retratar a vida no país dois anos após Talibã voltar ao poder e EUA retirarem tropas. A adolescente afegã Freshta, de 16 anos, abraça a mãe, Hakimeh, de 55 anos, em Cabul, no Afeganistão. A jovem teve de largar a escola após a volta do Talibã ao poder e hoje é casada e trabalha em uma fábrica de tapetes.

Rodrigo Abd/ AP

Nos anos que se seguiram à invasão dos EUA ao Afeganistão, em 2001, e à derrubada do regime talibã, o fotógrafo da Associated Press Rodrigo Abd, que estava no país, aprendeu uma forma tradicional de fotografar no país, através de uma câmara de caixa artesanal.

Em 2023, dois anos depois de os talibãs terem tomado novamente o poder, o fotógrafo regressou ao país para mostrar retratar a vida de afegãos empregando a quase desaparecida técnica.

Veja as imagens abaixo:

O afegão Khayesta Gul, de 57 anos, posa para retrato com suas filhas durante uma pausa no trabalho em uma fábrica de tijolos nos arredores de Cabul, Afeganistão.

Rodrigo Abd/ AP

Há fortes ecos da vida como era antes de as forças da Otan lideradas pelos EUA os terem derrubado do governo em 2001.

Mais uma vez, o país é governado por um movimento fundamentalista que restaurou muitas das regras rigorosas que impôs na década de 1990.

O primeiro regime talibã era famoso por destruir património artístico e cultural que considerava não-islâmico, incluindo os gigantescos budas antigos esculpidos em penhascos em Bamiyan.

Impuseram punições brutais, decepando as mãos dos ladrões, enforcando supostos blasfemadores em praças públicas e apedrejando mulheres acusadas de adultério.

As execuções e chicotadas estão de volta. A música, os filmes, a dança e os espetáculos são proibidos, e as mulheres são novamente excluídas de quase toda a vida pública, incluindo a educação e quase todas as profissões.

O regresso às políticas de linha dura afugentou ONGs e organismos oocidentais, trabalhadores humanitários e os parceiros comerciais. A pobreza atingiu níveis de crise, alimentada pela proibição do trabalho das mulheres, pelos cortes profundos na ajuda externa e pelas sanções internacionais.

Sem poder trabalhar, mulheres esperam para receber doação de alimentos por grupo de ajuda humanitária em Cabul, no Afeganistão, em maio de 2023.

Rodrigo Abd/ AP

Mas há um alívio quase universal pelo facto de o implacável derramamento de sangue das últimas quatro décadas de invasões, múltiplas insurgências e guerra civil ter cessado em grande parte.

Ainda existem bombardeios esporádicos, mas a maioria é atribuída a outro movimento extremista, inimigo do Talibã, conhecido como Estado Islâmico-Província de Khorasan, ou IS-K - um braço do Estado Isâmico.

Ainda assim, menos crime e violência não se traduz necessariamente em prosperidade e felicidade.

Soldado afegão posa para foto diante de mesquita na cidade de Harat, no Afeganistão, em junho de 2023.

Rodrigo Abd/ AP

A câmera

Camponeses posam durante trabalho em Harat, no Afeganistão, em junho de 2023.

Rodrigo Abc/ AP

O dispositivo de aparência curiosa lembra pouco mais que uma grande caixa preta em um tripé. Conhecida como kamra-e-faoree, ou câmera instantânea, é uma câmera de madeira e escura feita à mão.

Eram comuns nas ruas das cidades afegãs no século passado – uma forma rápida e fácil de fazer retratos, especialmente para documentos de identidade.

Simples, baratos e portáteis, resistiram a meio século de mudanças dramáticas nesse país – desde uma monarquia a uma tomada comunista, de invasões estrangeiras a insurgências – até que a tecnologia digital do século XXI as tornou obsoletos.

A tecnologia antiga confere às imagens uma qualidade vintage e atemporal, como se o passado do país estivesse sobreposto ao seu presente – o que em muitos aspectos é verdade.

Crianças e adultos que trabalham em fábrica de tijolos nos arredores do Afeganistão, em maio de 2023.

Rodrigo Abd/ AP