Sem base legislativa, Milei terá que negociar alianças com a classe política que despreza, se eleito

Favorito nas eleições deste domingo, candidato de extrema direita seduz eleitor com propostas excêntricas, mas terá dificuldades para implementá-las.

Foto: Reprodução internet

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Favorito nas eleições deste domingo, candidato de extrema direita seduz eleitor com propostas excêntricas, mas terá dificuldades para implementá-las. Quem é Javier Milei: candidato da extrema direita que lidera primárias na Argentina

Javier Milei, o fenômeno desta campanha eleitoral argentina, foi cultivado num ambiente de raiva e cansaço. O candidato que se define libertário, mas está localizado na extrema direita do espectro político, soube abrir espaço e tirar proveito do descrédito do eleitor, seduzindo-o com promessas excêntricas.

Ele personifica a frente A Liberdade Avança e propõe mudanças radicais, que teriam grande impacto no cotidiano dos argentinos: extinção do Banco Central, dolarização da economia, revogação da lei do aborto e a privatização da educação, da saúde e de empresas públicas. Milei defende ainda o comércio livre de órgãos e armas de fogo.

Tais medidas são anunciadas com o vigor da retórica e do estilo espalhafatoso que caracteriza o candidato. Ele oferece a seus seguidores um ar de renovação no sistema político, depois de duas décadas de governos peronistas, com apenas o curto intervalo da gestão de quatro anos de Mauricio Macri. A questão é se ele teria poder para implementar sua controversa plataforma.

As pesquisas indicam que Milei seria um presidente enfraquecido e sem base no Congresso Nacional, com representação de apenas 15% dos deputados e 11% dos senadores. A falta de apoio parlamentar fez com que ele antecipasse, após a vitória nas primárias, em agosto, outros meios para assegurar a governabilidade: o de, por exemplo, levar adiante suas polêmicas propostas, com decretos presidenciais ou consultas populares.

Plebiscitos, contudo, são mecanismos consultivos e não vinculantes; precisam ser ratificados pelo Congresso, argumentaram constitucionalistas argentinos. Se eleito, Milei seria forçado a negociar com a classe política, que tanto insultou durante a campanha.

Deputado desde 2021, no mês passado, ele se aliou ao kirchnerismo para aprovar o projeto de reforma do Imposto sobre os Lucros, promovido pelo ministro da Economia e candidato do governo, Sergio Massa.

Recebeu ainda um sinal do ex-presidente Macri: "Caso Milei vença, espero que nossa coalizão apoie qualquer reforma que seja razoável no Congresso", declarou o ex-presidente, irritando a sua candidata, Patricia Bullrich, que alegou ser cedo para acenar ao candidato.

Milei é o favorito nas pesquisas e almeja a vitória no primeiro turno nas eleições deste domingo, mas o panorama está confuso e indica um segundo turno. A ex-ministra da Segurança Pública no governo de Macri lidera a frente conservadora Juntos pela Mudança, que disputa o segundo lugar com o peronista Sergio Massa.

Libertário, anarquista e ultradireitista, entre os muitos rótulos que coleciona, Milei bagunçou o cenário eleitoral e assusta a classe política argentina. "Não vim para guiar cordeiros, vim para despertar leões", costuma repetir. Porém, sem apoio no Congresso, ele terá que retroceder algumas casas e forjar alianças para governar.