ILUSTRADORA DE RR CRIA PERSONAGENS PARA ANIMAÇÃO EM PLATAFORMA DE STREAMING

Animações feitas pela publicitária especialista em ilustração e desenho 3D, Ina Carolina, fazem parte da série Ridley Jones: A Guardiã do Museu, lançada em julho pela Netflix.

ILUSTRADORA DE RR CRIA PERSONAGENS PARA ANIMAÇÃO EM PLATAFORMA DE STREAMING

BOA VISTA (Roraima) - "Boa Vista não deixa a desejar em relação a nenhum outro lugar". A avaliação é da ilustradora roraimense Ina Carolina. Publicitária especializada em modelagem 3D e ilustração, ela criou o visual de sete personagens para a animação original da Netflix, Ridley Jones: A Guardiã do Museu, lançada em julho deste ano, e celebra a conquista: "É muito legal ser de Roraima e participar de um projeto grande".

A animação infantil Ridley Jones: A Guardiã do Museu conta a história de uma garota que vive com a avó em um museu de história natural. Quando o museu está fechado para visitas, os animais ganham vida e cabe à protagonista manter o lugar em ordem.

Parte desses animais envolvidos na trama tiveram o dedo de Ina na criação. Entre eles um personagem não binário. Os demais personagens ela não pôde revelar quem são porque ainda não foram lançados e ela não quis estragar a surpresa do público com spoiler.

Durante o processo de produção do seriado, ela disse que não tinha muitas informações sobre o enredo. Quando a série foi lançada, Ina conta que teve uma agradável surpresa ao assistir a filha, de 5 anos, e descobrir que a animação defende a inclusão.

"Minha filha já viu inteira e amou! É uma série bem inclusiva. Tem personagens não-binários e isso é muito legal!".

"É engraçado pois quando estava trabalhando na série recebi esse personagem como referência e eu jurava que era um menino. Então, fui falar isso com a minha filha na série ela disse 'não mamãe, importa se é menino ou menina', que é a resposta que um dos personagens dá, e isso é genial!", afirma.

Para ela, ver a filha assistindo a produção em que ela teve participação - e aprovando o resultado final - foi uma das melhores recompensas que ele teve do trabalho.

"Ver minha filha assistindo um trabalho que eu participei foi a parte mais legal. É indescritível. Ela era a pessoa que eu estava mais esperando que visse, mais do qualquer outro. Pois ela é muito seletiva, então quando ela começou a ver já estava botando sozinha para assistir, eu pensei 'isso é um bom sinal'".

A oportunidade de participar da produção da Netflix surgiu após a ilustradora se inscrever em um processo seletivo da empresa Brown Bags Film, sediada na Irlanda.

"Trabalhei com eles aqui do Brasil mesmo. Foram oito meses de trabalho. Já estava rolando a pandemia durante a produção. Eles me mandavam o concept, que é o desenho do design do personagem e eu modelava em 3D. Alguns personagens foram assim e outros eu já recebi um personagem base como inspiração. Mas, no geral, eu fazia com o concept mesmo", relembra sobre o trabalho na produção.

'Orgulho de ser de Roraima'

Ina nasceu em Boa Vista e se formou em publicidade e propaganda na então Faculdade Atual, instituição particular na capital. Em 2010 mudou-se para São Paulo, onde se especializou em modelagem 3D e em ilustração.

Embora esteja feliz com a própria conquista, Ina não considera ser algo acima do comum, tendo em vista que, na avaliação dela, em Roraima há muitos talentos com grandes possibilidades de ter o trabalho reconhecido e com visibilidade.

"É muito legal ser de Roraima e participar de um projeto grande da Netflix. Mas, para falar a verdade, eu não acho que Boa Vista deixa a desejar em relação a nenhum outro lugar. Tem muita gente muito talentosa e eu conheço muita gente boa. Não acho que isso seja uma conquista tão mirabolante, pelo fato de ter grandes talentos em Boa Vista, como tem em São Paulo, como tem nos Estados Unidos. Tem gente muito boa em vários lugares do mundo".

E, como nada é por acaso, Ina teve a oportunidade de usar Roraima como inspiração ao ser convidada para ilustrar o livro infantil Tulu: em busca de um lugar para viver, de Donaldo Buchweitz, que conta a vida de um menino Macuxi que ama os animais e a floresta, mas é surpreendido pelas queimadas que ameaça seu povo.

"Sempre pensei que deveria fazer algo igual ao que todo mundo fazia. Eu sentia isso. Acontece que eu nunca havia reparado como ser de Roraima me trazia diferencial. Foi então que caiu na minha mão um livro para ilustrar que falava sobre um indígena macuxi. Nisso, eu pensei: 'tá brincando comigo, sabe de onde eu sou?', quando eu vi as paisagens, a Fauna e a Flora, pensei que tinha tudo a ver".

A partir do trabalho feito no livro, Ina começou a notar o quão forte particularidades de Roraima exerciam influência em seu trabalho.

"Era a paisagem roraimense dentro de mim. Era tão natural. As cores que eu uso, as formas estavam todas na minha cabeça. Comecei a ver no meu trabalho essas heranças de Roraima. O céu de Boa Vista, não existe outro céu. Não tem igual. A folha do caimbé! Quantas cores existem no pé de caimbé? Esse livro me mostrou que tem muito de Roraima no meu trabalho", conta com orgulho.

Outros trabalhos

Ina Carolina lembra que desde criança percebia que tinha vocação e, mesmo com o apoio da família, demorou para "ver nisso ainda a oportunidade de se ter uma profissão". "A ilustração sempre andou comigo, sempre foi uma forma minha de me comunicar", disse.

Depois de formada em publicidade, se mudou para São Paulo, onde trabalhou em alguns estúdios. Mas, o foco no trabalho de ilustração e modelagem 3D foi decido mesmo quando a filha nasceu e após receber um convite de Fernanda Takai para ilustrar o livro "O Cabelo da Menina".

"Quando a minha filha nasceu, me soltei do trabalho fixo, saí da empresa onde estava e comecei a pegar só freelance de 3D. Isso me abriu um espaço para talvez começar a trabalhar com ilustração também, além da modelagem. A coragem que faltava foi a Fernanda Takai, da banda Pato Fu, que me deu quando me mandou uma mensagem falando 'ah eu escrevi uma história e a gente precisa de ilustrador, eu posso indicar você?'. Fiquei muito feliz, surpresa e empolgada. Foi perfeito".

Além das ilustrações para os livros Tulu: Em Busca de um Sonho e O Cabelo da Menina, Ina também lançou de forma independente histórias em quadrinho autorais, como As Certezas de Joana lançado em 2018.

Projetos Futuros

A artista conta que a intenção agora é alçar voos para trabalhos mais autorais, tanto na ilustração quanto na animação.

"Como ilustradora eu queria agora ir mais para o trabalho autoral, pois eu tenho muita história para contar. Na modelagem eu acho que eu estou caminhando no sentido que eu quero. Agora eu tô trabalhando para uma empresa de Londres e eu tô a quase um ano com eles e eu já trabalhei em um longa-metragem de animação e agora eu já estou em outro!".

Na área de modelagem 3D, a artista relata estar trilhando o caminho certo por estar realizando o sonho de trabalhar em um longa metragem de animação.

"Sempre quis trabalhar em um longa, tem um espírito totalmente diferente, principalmente para quem estava acostumado com publicidade. É diferente a energia."

"O tempo que isso dura é outro diferencial, filme vai durar por muitos anos, talvez para sempre, publicidade você vê já esquece, é sempre substituível, é algo mais liquido. Um filme você toca corações".

Todos os trabalhos e os próximo passos da artista são divulgados por meio de seu Instagram e pelo próprio site.

Ina Carolina acredita que o Brasil já tem potencial para se destacar na área de animação em nível internacional, tanto pelo aparato técnico quanto pelos artistas incríveis, o que falta, segundo a artista, é o apoio financeiro, "mas é só isso também e a gente vai chegar lá!".