Balsas, no Maranhão, é o município brasileiro que mais desmatou o Cerrado no último ano, aponta IPAM

Balsas, no Maranhão, é o município brasileiro que mais desmatou o Cerrado no último ano, aponta IPAM
Além de Balsas, outros três municípios maranhenses estão na lista das 10 cidades do Brasil que mais desmataram o cerrado entre agosto de 2020 e julho de 2021, são eles Grajaú, Caxias e Aldeias Altas. Cerrado no Maranhão.

Divulgação/Governo do Estado

A cidade de Balsas, no Sul do Maranhão, foi o município que mais desmatou o Cerrado no último ano, é o que aponta um levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), divulgado nesta sexta-feira (7). Além de Balsas, outros três municípios maranhenses estão na lista das 10 cidades do Brasil que mais desmataram o cerrado, são eles Grajaú, Caxias e Aldeias Altas.

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Segundo o IPAM, Balsas suprimiu 241,64 km² de vegetação nativa da área de cerrado brasileiro, entre agosto de 2020 e julho de 2021. Já Grajaú, desmatou 95,42 km²; Caxias, 86,79 km² e Aldeias Altas 83,64 km².

Veja a lista completa dos 10 municípios do Brasil que mais desmataram o cerrado:

Balsas (MA) com 241,64 km² de vegetação nativa

São Desidério (BA), com 207,84 km² desmatados

Formosa do Rio Preto (BA), 157,31 km²

Paranã (TO), 135,43 km²

Jaborandi (BA), 116,44 km²

Grajaú (MA), 95,42 km²

Caxias (MA), 86,79 km²

Aldeias Altas (MA), 83,64 km²

Correntina (BA), com 76,41 km²

Santa Maria das Barreiras (PA), que desmatou 77,74 km²

Juntos, os dez municípios que mais desmataram o Cerrado concentram 15% (1.278,66 km²) de toda a perda de vegetação no bioma entre agosto de 2020 e julho de 2021. Deles, nove estão na região chamada de Matopiba, que compreende os Estados da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de Tocantins. O único município fora do Matopiba que se destaca no desmatamento do cerrado é Santa Maria das Barreiras (PA).

De acordo com o IPAM, a Matopiba bateu recorde de desmatamento e responde por 61,3% (5.227,32 km²) do total de 8.523,44 km² suprimidos no período. A região superou o ano de 2017, quando foi responsável por 61,1% da derrubada no Cerrado.

“Há uma elevada atividade agropecuária na região do Matopiba, por isso precisamos colocar em prática soluções conjuntas para dissociar a produção do desmatamento. Desmatar não é e nunca foi uma necessidade para melhorar a produtividade agrícola”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM.

A análise de pesquisadores do IPAM tem como base a consolidação dos dados do Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mapeia a supressão de vegetação nativa no Cerrado. A área desmatada em todo o bioma foi a maior desde 2015 e corresponde quase seis cidades de São Paulo.

No Maranhão, as áreas de proteção integral no Cerrado se encontram principalmente no Parque Estadual do Mirador (766.781,00 hectares) e no Parque Nacional das Chapadas das Mesas (160.046,00 hectares). Outras áreas como, a Reserva Extrativista Chapada Limpa (11.971, 00 ha) e as APAS (Áreas de Proteção Ambiental) são classificadas como unidades de conservação de uso sustentável do cerrado.

Desmonte do Inpe para o Cerrado

Nessa quinta-feira (6), foi anunciada a descontinuidade do monitoramento do bioma Cerrado pelo Inpe, por falta de verba.

O Brasil vai ficar sem referências sobre os dados de desmatamento no Cerrado a partir de abril. Sem recursos, o Inpe desmobilizou a equipe de pesquisadores focados no monitoramento do bioma, e os dados devem ser mantidos até abril. Depois disso, o projeto vai ser descontinuado.

“O trabalho da equipe de monitoramento do Cerrado no Inpe é fundamental para que a gente conheça a realidade do que está ocorrendo no bioma, o quanto está ameaçado e o que ainda pode ser feito para controlar e evitar sua devastação. São dados oficiais e de referência que norteiam não só políticas públicas, mas também a atuação de outros setores da sociedade”, comenta Julia Shimbo, pesquisadora no IPAM e coordenadora científica da iniciativa MapBiomas.

O monitoramento é essencial para a tomada de ações na preservação do bioma.

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“É um projeto importante para acompanhar a questão hídrica, a agricultura. É um projeto de baixo custo se comparado ao valor que esses dados têm para o mercado, mas não temos investimento”, afirma Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento da Amazônia e demais biomas.

Brasil vai deixar de medir desmatamento no Cerrado

De acordo com o Inpe, a verba que mantinha a equipe de monitoramento do Cerrado se encerrou em 31 de dezembro, mas o órgão não tem orçamento para continuidade do programa. Para manter a equipe e o projeto de pé seriam necessários R$ 2,5 milhões ao ano.

Segundo o balanço mais recente divulgado pelo Inpe, divulgado em dezembro, o desmatamento no Cerrado aumentou 7,9% entre agosto de 2020 e julho de 2021, alcançando a marca de 8.531 km². A extensão corresponde a cinco vezes a cidade de São Paulo.

Financiamento

Desde 2016, o monitoramento era feito com financiamento do Forest Investment Program (FIP), administrado pelo Banco Mundial. A verba de US$ 9 milhões era dividida entre o Inpe, para a pesquisa, e outras duas universidades. Em 31 de dezembro, o financiamento se esgotou.

"Nós conseguimos organizar um excedente de orçamento para manter o monitoramento até abril, mas já não temos mais recursos. Manteremos até abril com muito menos que o necessário”, afirma Almeida.

Segundo Almeida, são necessárias 20 pessoas para manter o projeto. Desde 2017, a equipe faz monitoramento diário e balanços anuais sobre o Cerrado com uso do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

Cerrado brasileiro

Maior que o México, o Cerrado ocupa uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados e é o segundo maior bioma do Brasil. Como hotspot de biodiversidade, apresenta diferentes tipos de vegetação nativa. É a savana mais biodiversa do mundo e está sob elevado grau de ameaça. Quase metade já foi desmatada: 54,5% de seu território ainda é coberto por vegetação nativa, sendo que 44% se encontra no Matopiba.

O Cerrado concentra oito nascentes das 12 bacias importantes para o consumo de água e geração de energia no país. É um bioma importante para a distribuição de água no Brasil. Por ter o solo mais alto, absorve a umidade e leva água para 8 das 12 bacias importantes para o consumo de água e geração de energia no país.

Na região da bacia do Rio Paraná, que abastece Itaipu, o Cerrado responde por quase 50% de toda a vazão. As regiões do São Francisco, do Parnaíba e do Paraguai – esta última ligada ao Pantanal - têm uma dependência hidrológica ainda maior: o bioma é responsável por aproximadamente 94%, 105% e 135%, respectivamente, de toda a vazão. Com isso, se falta chuva no Cerado, o país inteiro sente.

O Inpe tenta novas verbas com a sugestão de um novo projeto de monitoramento de biomas brasileiros, o que incluiria o Cerrado. A proposta seria financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), mas ainda não há retorno sobre a aprovação.