Cazaquistão prende ex-chefe de segurança por "traição"

Cazaquistão prende ex-chefe de segurança por
Protestos tomaram o país após o governo duplicar o preço dos combustíveis; presidente ordenou que suas tropas atirassem para matar para pôr fim ao que ele chamou de ataques de bandidos e terroristas. Ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional do Cazaquistão Karim Massimov em foto de 2019

Kenzaburo Fukuhara/Pool via Reuters

Karim Massimov, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional do Cazaquistão, foi preso acusado de traição, informou a agência de segurança estatal neste sábado (8).

A prisão de Massimov foi anunciada pelo próprio Comitê de Segurança Nacional, que ele chefiou até ser demitido nesta semana pelo presidente Kassym Jomart Tokayev, enquanto protestos violentos se espalharam pela ex-república soviética.

Em telefonema, Tokayev disse ao presidente russo, Vladimir Putin, que a situação no país estava se estabilizando, informou o Kremlin.

Putin apoiou uma proposta de Tokayev para convocar uma videoconferência de líderes da OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva), através da qual a Rússia e quatro outras ex-repúblicas soviéticas enviaram tropas ao Cazaquistão para ajudar a restaurar a ordem.

Dezenas de pessoas morreram, milhares foram detidas e prédios públicos em todo o Cazaquistão foram incendiados durante os protestos nos últimos dias.

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Tokayev ordenou que suas tropas atirassem para matar para pôr fim ao que ele chamou de ataques de bandidos e terroristas.

Ele disse na sexta-feira que o Estado "dormiu” enquanto ataques eram preparados para ocorrer em todo o país. A prisão de Massimov indica que estão em curso ações contra os responsáveis.

Além de chefiar a agência de inteligência que substituiu a KGB da era soviética, Massimov foi ex-primeiro-ministro que trabalhou em estreita colaboração com o ex-presidente Nursultan Nazarbayev, que governou o país por três décadas até entregar a presidência a Tokayev em 2019.

As manifestações em todo o país começaram como uma resposta ao aumento do preço do combustível, mas se transformaram em um amplo movimento contra o governo de Tokayev, que é apoiado pela Rússia, e Nazarbayev, de 81 anos, cuja família é amplamente considerada por ter mantido influência em Nur-Sultan, a capital que leva seu nome.

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Forças de segurança retomam controle

Após vários dias de violência, as forças de segurança parecem ter retomado o controle das ruas da principal cidade do Cazaquistão, Almaty, na sexta-feira (7).

Algumas empresas e postos de gasolina começaram a reabrir neste sábado na cidade de cerca de 2 milhões de habitantes, enquanto as forças de segurança patrulhavam as ruas. Tiros ocasionais ainda podiam ser ouvidos em torno da praça principal da cidade.

O vice-prefeito da cidade foi citado pela agência de notícias russa RIA, dizendo que as operações para purgar a cidade de "terroristas e grupos de bandidos" ainda estavam em andamento e os cidadãos foram aconselhados a ficar em casa.

O Ministério do Interior disse que mais de 4.400 pessoas foram detidas desde o início dos protestos. Tokayev anunciou que um dia nacional de luto aconteceria na segunda-feira (10) para homenagear os mortos nos protestos.

A implementação da aliança militar OTSC liderada pela Rússia no Cazaquistão ocorre enquanto a Rússia e os Estados Unidos se preparam para fazer negociações na próxima semana sobre a crise na Ucrânia.

Moscou colocou um grande número de tropas perto de sua fronteira com a Ucrânia, embora negue as acusações americanas de que esteja planejando invadir o país, alegando que quer garantias de que a Otan interromperá sua expansão para o leste.

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