Embrapa desenvolve alimentos, bebidas alcóolicas e até cosméticos à base de camu-camu

Estudos apontam viabilidade da exploração comercial do fruto nativo da floresta rico em vitamina C e antioxidantes, e apreciado no mercado internacional.

Embrapa desenvolve alimentos, bebidas alcóolicas e até cosméticos à base de camu-camu

Boa Vista (Roraima) - De sabor ácido marcante e com alto teor de vitamina C e antioxidantes, este é o caçari, nome dado pelos roraimenses ao fruto também conhecido como camu-camu, nativo da Floresta Amazônica.

Comum às margens de rios, igarapés e áreas de várzeas, o caçari é produzido há 12 anos no campo experimental Água Boa, da Embrapa, há 25 km de Boa Vista. O local é uma das duas unidades onde pesquisadores desenvolvem estudos para domesticação e exploração da cadeia produtiva do fruto no estado.

Edvan Chagas é o pesquisador líder do experimento. Ele explica que o fruto não é muito consumido em Roraima por conta do sabor ácido e "travoso" quando consumido in natura e com a casca. Por isso, um dos focos dos estudos é a viabilidade na agroindustrialização.

De acordo com Edvan, o cultivo é pouco explorado no estado e apenas alguns agricultores do Sul do estado dão os primeiros passos no plantio. Ainda não há produção em grande escala.

"Ele tem um grande potencial do ponto vista comercial, porque é um produto muito valorizado fora do nosso país. Em função disso, nós precisávamos criar um sistema de produção, que fosse capaz da gente produzir essa fruta em condições de cultivo comercial", disse o pesquisador.

Os estudos identificaram que, além das regiões do bioma amazônico, o fruto se adapta bem às condições de cerrado roraimense. Para fazer o cultivo, no entanto, foi preciso investir em tecnologias, como seleção de genótipos superiores, produção de mudas, manejo de poda e adubação da planta, manejo de pragas, irrigação, pós-colheita e beneficiamento da cultura. Todas as variedades plantadas têm as melhores características do fruto.

Em média, os frutos começam a brotar depois do quarto ano de desenvolvimento da planta. Quando o roxo começa a dominar mais de metade da casca é sinal de que a colheita pode ser feita.

Um dos bons resultados dessa pesquisa foi observado na produtividade. Na forma nativa, o caçari produz irregularmente, mas nos campos experimentais, têm plantas produzindo entre 4 e 8 toneladas por hectare. Segundo a Embrapa, com mais idade e manejo aprimorado, elas podem superar as 12 toneladas por hectare.

"Do ponto de vista da viabilidade técnica, quando nós falamos de 10 toneladas de caçari por hectare, isso é uma excelente produtividade para espécie nativa que agora que tem sido adaptada às condições de cultivo", explicou Edvan.

Depois que sai da plantação, o caçari é transportado no gelo. Na fábrica, acontece a seleção dos melhores frutos e são retiradas as impurezas. Em sequência, ele é despejado na máquina de despolpamento.

O estudo da Embrapa também aponta como esse procedimento deve ser feito. Por conta do sabor forte, é preciso seguir recomendações específicas para não prejudicar a qualidade dos produtos derivados. Foi desenvolvida uma técnica que consiste no controle do tempo na máquina: em média, deve-se fazer o despolpe por apenas três minutos, para não haver atrito entre a casca e a semente.

E não há desperdício. O caçari pode ser aproveitado da casca até a semente. A polpa, por exemplo, pode ser utilizada na fabricação de geleias, sorvetes, bebidas alcoólicas e outros gêneros alimentícios.

"A polpa é atualmente o principal produto. Mas dentro do processo de beneficiamento sobram resíduos, que depois de tratados têm alto potencial de aproveitamento. Esse material pode ser usado em cosméticos, alimentos e até mesmo medicamentos", disse um dos colaboradores da pesquisa, Pedro Guimarães.

E os estudos vão além. Um dos braços da pesquisa quer identificar se o caçari pode ser benéfico no combate à doenças, como diabetes e obesidade.

Para a Embrapa, o caçari pode ser uma alternativa viável para os produtores de Roraima. Apesar do pouco consumo local, o fruto é apreciado em países asiáticos, europeus, norte-americanos e também na América do Sul.

"O caçari, embora pouco conhecido no Brasil, é apreciado no mercado externo [...]. A gente vem disponibilizando os resultados, mas continuamos com os estudos para avançar nas pesquisas para que a gente possa ter tecnologias e informações adequadas para ajudar os nossos produtores a empreender com essa cultura, e também a nossa população a consumir os produtos da fruta", finalizou Edvan.

Fruto não é muito consumido em Roraima por conta do sabor ácido e "travoso".