Candidatura une as dinastias Marcos e Duterte e é favorita nas Filipinas

Candidatura une as dinastias Marcos e Duterte e é favorita nas Filipinas
Filho de ex-ditador e filha de atual presidente formam aliança para disputar eleições para os cargos de presidente e vice-presidente. Ferdinand Marcos Jr. e Sara Duterte durante evento de campanha nas Filipinas

Reprodução/Instagram/Bongbong Marcos

Os sobrenomes Marcos e Duterte, dois poderosos clãs das Filipinas, estão juntos na mesma chapa, que se destaca como a favorita para concorrer às eleições presidenciais de maio. A aliança se dá num momento crucial para o país, que sustenta o rótulo de democracia imperfeita em respeitadas instituições internacionais.

Mais conhecido como Bongbong, Ferdinand Marcos Jr., candidato ao cargo de presidente, é filho do ditador que controlou as Filipinas por duas décadas e fugiu para o Havaí, em 1986, deposto pela Revolução do Poder Popular sob a acusação de roubar o equivalente a US$ 10 bilhões dos cofres públicos.

Filha do presidente populista Rodrigo Duterte, que comandou a execução de 30 mil pessoas em sua controversa guerra às drogas, segundo adversários, Sara Duterte disputa a vice-presidência. A cartelização das duas dinastias, como bem definiu o cientista político Aries Arugay, pretende manter o controle do país nos próximos seis anos.

Presidente Rodrigo Duterte das Filipinas será candidato ao Senado em 2022

Ex-governador e ex-senador, Marcos Jr., de 64 anos, tenta reabilitar a imagem da família. Explora, entre os mais velhos, a nostalgia dos tempos da ditadura e, entre os mais jovens, a ignorância pelo escasso material didático que ilustre as atrocidades da época. O candidato reescreve o legado familiar ao apresentar os pais, Ferdinand e Imelda, como exemplos de filantropos e inovadores.

Aos 43 anos, Sara, por sua vez, tenta se desgarrar da imagem do pai e de seu slogan preferido: “matar, matar e matar”. Pelos excessos da campanha antidrogas e execuções extrajudiciais, o atual presidente é investigado pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia.

A Constituição impede a reeleição de Duterte — que, de início, tinha planos de concorrer à vice-presidência. Ele fez o possível para lançar a filha, atual prefeita de Davao, como candidata a presidente, mas ela recusou a parceria com o pai e preferiu disputar o cargo de vice (nas Filipinas as duas eleições são separadas).

Eleito em 2016 com o apoio dos Marcos, Duterte autorizou o enterro dos restos mortais do ex-ditador no Cemitério dos Heróis, em Manila. As relações se desgastaram nesta campanha, diante da insistência do filho do ex-ditador de lançar-se candidato.

Por não confiar nele para protegê-lo do TPI, o presidente acabou se distanciando de Marcos Jr. e concorrerá ao cargo de senador, em mais uma tentativa de manter-se na vida pública. Com a habitual verborragia, classificou o candidato de fraco e insinuou que ele é usuário de cocaína. Bongbong apressou-se em atestar que estava limpo em um teste de drogas.

Representantes da segunda geração, Marcos Jr. e Sara Duterte preferem se manter alheios às recentes divergências familiares e, sempre que podem, aparecem juntos em eventos para demonstrar unidade na parceria.

A Comissão de Eleições rejeitou na segunda-feira (17) um pedido para desqualificar a candidatura do filho do ex-ditador, por não ter apresentado declarações do Imposto de Renda nos anos 1980. Por enquanto, o caminho parece estar livre para a dupla.

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