Professores da UnB publicam nota e defendem exigência de comprovante de vacinação contra Covid-19

Professores da UnB publicam nota e defendem exigência de comprovante de vacinação contra Covid-19
Texto, assinado neste domingo (30) por 12 docentes, aponta imunizantes como essenciais na contenção do número de vítimas da doença. Na semana passada, coordenadora da Faculdade de Medicina deixou cargo por se opor à medida. Universidade de Brasília, campus Darcy Ribeiro

Isa Lima/Secom UnB

Professores da Universidade de Brasília (UnB) publicaram uma nota defendendo a vacinação contra Covid-19 e a exigência do comprovante de imunização em todos os prédios da universidade. O texto, publicado neste domingo (30), aponta os imunizantes como essenciais na contenção do número de vítimas da doença (veja íntegra ao fim da reportagem).

A nota foi divulgada dois dias após a coordenadora da Faculdade de Medicina da UnB, Selma Kuckelhaus, deixar o cargo por se opor ao chamado "passaporte de vacina". Ela tomou a decisão depois que a instituição anunciou a exigência da medida. Em nota, a professora disse que faz parte do grupo de servidores não imunizados e que ficou em "desacordo com a gestão" (veja mais abaixo).

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No texto divulgado no domingo, 12 profissionais de áreas como medicina, biologia, física, geociências, psicologia, ciências da saúde, agronomia e medicina veterinária, defendem a imunização. Eles dizem que o objetivo é explicar alguns pontos que "ainda são mal compreendidos por parte da população".

O documento reforça que informações equivocadas sobre as vacinas podem ter consequências negativas, induzindo pessoas a evitá-las.

"Com a presente nota procuramos esclarecer algumas dessas questões, muitas vezes abordadas de forma equivocada, e reforçar a forma correta de abordar interesses da sociedade como um todo, a saber, utilizando o melhor conhecimento científico disponível", diz.

Ccartão de vacina contra Covid-19 no DF

Redes sociais / Reprodução

Na nota, os professores consideram o contexto atual da pandemia e recomendam que a vacinação de adultos e crianças seja "fortemente estimulada". De acordo com o texto, a entrada em locais públicos como escolas, universidades eventos com aglomeração, bares e restaurantes, deve ser permitida apenas a pessoas totalmente imunizadas contra a Covid-19.

Desde novembro, é obrigatória a apresentação do cartão de vacina para entrada em eventos como shows e competições esportivas no DF. O professores também parabenizam o Conselho de Administração da UnB por exigir a vacinação completa em todos os prédios.

"Tal decisão é um elemento importante para garantir a saúde de toda a comunidade universitária, e é um exemplo para nosso país de como enfrentar essa terrível pandemia, que já matou um grande número de brasileiros, e ainda faz sofrer um número muito maior", diz nota.

Coordenadora deixa cargo

Selma Kuckelhaus, coordenadora da Faculdade de Medicina da UnB que deixou cargo

Facebook/Reprodução

Ao anunciar que deixaria a coordenação da Faculdade de Medicina por ser contra o "passaporte da vacina", a professora Selma Kuckelhaus disse que é "sensível ao momento pandêmico", mas alegou que a segurança e eficácia da vacinação "suscitam inúmeros questionamentos".

Especialistas e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no entanto, descartam essa tese e asseguram que os imunizantes são seguros, testados e eficazes.

Selma afirmou que considera o passaporte obrigatório uma "incongruência", já que há pessoas que se recuperaram da Covid-19 e têm "imunidade natural". Entretanto, há casos comprovados de reinfecção pelo novo coronavírus, inclusive no Distrito Federal, e estudos mostram que pessoas que se infectaram ainda transmitem o vírus.

Em nota divulgada após a situação, a UnB afirmou que "permanece guiada pela ciência e a democracia, preservando vidas" e que docentes em cargo de coordenação de curso podem deixar a função por decisão própria. "No cumprimento de sua missão, a UnB orienta que, além da adoção dos protocolos de segurança, toda a população esteja vacinada", disse.

Confira íntegra da nota dos pesquisadores da UnB defendendo a vacinação:

A pandemia de COVID-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, que se iniciou na China no final de 2019, ainda avança pelo mundo. Com mais de 368 milhões de casos e tendo matado mais de cinco milhões e seiscentas mil pessoas [1], é certamente o maior desastre sanitário em mais de cem anos, cifras subestimadas em muito [2]. No Brasil causou até o momento mais de 626 mil mortes, com cerca de 25 milhões de casos, com o número real estimado em algumas vezes esse valor [3]. Além do isolamento social e o uso de máscaras, que se mostraram extremamente eficazes na mitigação da pandemia [4], o desenvolvimento de novas vacinas tem sido essencial para conter um número ainda maior de vítimas, com alto grau de eficácia. Mesmo com o surgimento da variante Ômicron, continuam sendo efetivas para prevenir doença grave e a morte, sobretudo após a dose de reforço [5].

Informações equivocadas sobre as vacinas contra a COVID-19 podem ter consequências negativas, induzindo pessoas a evitá-las [6]. Com a presente nota procuramos esclarecer algumas dessas questões, muitas vezes abordadas de forma equivocada, e reforçar a forma correta de abordar interesses da sociedade como um todo, a saber, utilizando o melhor conhecimento científico disponível.

Alguém que já teve contato com o vírus SARS-CoV-2 desenvolve a chamada imunidade natural. Não se sabe ao certo quanto tempo ela dura, mas já se sabe que casos de reinfecção não são raros, sendo particularmente importante com a variante Ômicron [7]. Dessa forma, pessoas anteriormente infectadas não estão totalmente protegidas contra uma nova infecção pelo vírus e necessitam ser submetidas ao mesmo protocolo de vacinação que o restante da população.

As vacinas, além de eficazes e efetivas, são seguras, com baixíssima chance de qualquer efeito colateral real, aspecto evidenciado após a aplicação de 10 bilhões de doses no mundo e 350 milhões no Brasil [8]. O fato de que os registros de efeitos colaterais das vacinas serem extremamente raros, e não fatais, mostra que o risco de eventos adversos associados à vacinação é extremamente menor que o risco de apresentar doença grave ou morrer por Covid-19.

A vacinação completa reduz fortemente a probabilidade de internação hospitalar, e principalmente de morte. Ela também diminui a possibilidade de infecção sintomática ou assintomática. Mesmo quando uma pessoa totalmente vacinada contrai o vírus, a probabilidade de que o transmita é reduzida significativamente pela vacinação [5,8]. Assim, garantir que o maior número de pessoas se vacinem reduz a circulação do vírus, diminui a sobrecarga do sistema de saúde, e reduz o número de vidas perdidas para a doença.

É de domínio público que cerca de 90% das internações em UTIs por COVID-19 hoje no Brasil, assim como em outros países, são de pessoas não vacinadas ou sem a vacinação completa, apesar destas serem minoria na população [9]. Isso significa que a escolha individual de não se vacinar tem como efeito, dentre outros, sobrecarregar o atendimento hospitalar, algo que atinge pessoas que não participaram dessa decisão.

A vacina para crianças a partir de cinco anos de idade é segura e eficaz, tendo seguido todos os protocolos de segurança exigidos, e sido aprovada por agências sanitárias de diferentes países [10]. Portanto, não se trata de uma vacina experimental, mas sim de um procedimento seguro, baseado em sólidas evidências científicas, e necessário para proteger as crianças a partir de cinco anos, enquanto vacinas para os mais jovens estão sendo testadas neste momento. Os pais devem procurar vacinar seus filhos o mais rapidamente possível, e assim evitar que tenham a doença, com suas complicações, e que, mesmo raras, podem levar à morte. Dados da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal [11] mostram um claro crescimento dos casos entre crianças. Idealmente as crianças devem ser vacinadas até a retomada das aulas presenciais.

A livre circulação do vírus SARS-CoV-2 gera um grande risco de surgimento de novas variantes, que podem inclusive ser mais contagiosas ou perigosas, e assim deve ser minimizada de todas as formas possíveis.

A constituição da República Federativa do Brasil, em seu Artigo 6o , diz que “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” No seu artigo 196 lê-se que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

Considerando o contexto atual de pandemia, recomendamos que a vacinação contra a COVID-19, de adultos e crianças seja fortemente estimulada. Que a entrada em locais públicos como Escolas, Universidades, eventos com aglomeração, bares e restaurantes, onde a transmissão é favorecida, deve ser permitida apenas a pessoas totalmente vacinadas contra a COVID-19. Assim parabenizamos a decisão do Conselho de Administração da Universidade de Brasília pela decisão, do dia 26 de Janeiro de 2022, de exigir a comprovação de vacinação completa para ter acesso a suas dependências. Tal decisão é um elemento importante para garantir a saúde de toda a comunidade universitária, e é um exemplo para nosso país de como enfrentar essa terrível pandemia, que já matou um grande número de brasileiros, e ainda faz sofrer um número muito maior.

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