Estado do Idaho, nos EUA, aprova lei permite processar equipe médica que realiza procedimentos de aborto

Estado do Idaho, nos EUA, aprova lei permite processar equipe médica que realiza procedimentos de aborto
Familiares da mulher e os gestores podem processar os profissionais que fizeram o procedimento em tribunais civis estaduais. A medida é considerada inconstitucional. Aprovada por homens, lei de aborto do Texas torna cidadãos fiscais da vida alheia

Uma lei aprovada pelo legislativo do Estado do Idaho, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira (23) abre a possibilidade para que os provedores de serviços de aborto sejam processados em tribunais civis estaduais.

Pelo projeto de lei, familiares das mulheres que abortaram e também os pais dos fetos podem processar os profissionais de saúde que fizeram o procedimento.

A medida é inspirada em uma lei polêmica do Texas.

Leia também

Sandra Cohen: Entenda o que significa a proibição do aborto no Texas para o resto dos EUA

Supremo dos EUA decide não suspender lei contra o aborto no Texas, mas marca nova audiência

Protestos pró-aborto em Austin, no Texas, em 2019

Jay Janner/Austin American-Statesman via AP

O governador Brad Little, que assinou nesta quarta-feira o projeto de lei, disse ser um defensor dos direitos dos "bebês antes do nascimento", mas que temia que esse enfoque fizesse com que a lei fosse inconstitucional. "Embora eu apoie a política pró-vida dessa lei, temo que o novo mecanismo de aplicação civil logo se mostre inconstitucional e imprudente", escreveu em carta à legislatura estadual.

"Delegar a cidadãos privados a imposição de multas pesadas pelo exercício de um direito constitucional desfavorável, mas reconhecido judicialmente, a fim de evitar a revisão judicial, mina nossa forma constitucional de governo e enfraquece nossas liberdades coletivas", acrescentou Little.

Como também apontaram os críticos da lei do Texas, Little disse que enquadrar a legislação dessa maneira tornava vulneráveis direitos que os conservadores apreciam, como o de possuir armas.

Governo irresponsável

Grupos de direitos civis e a Casa Branca atacaram a lei de Idaho. "Os legisladores promoveram abertamente esse projeto de lei como uma forma 'inteligente' de minar o acesso ao aborto evitando a revisão judicial", disse Lauren Bramwell, da União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu). É uma forma de "governo politicamente motivada e irresponsável, que irá prejudicar pessoas reais, que merecem decidir por si sós o que é melhor para elas e suas famílias, sem interferências políticas".

A secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o projeto de lei do Texas e iniciativas que o imitam, como o projeto de lei de Idaho, são uma tentativa flagrante de minar os direitos estabelecidos em Roe v. Wade da Suprema Corte, que cimentou o direito da mulher ao aborto.

"Esse avanço é devastador para as mulheres de Idaho, pois impedirá ainda mais o acesso das mulheres aos cuidados de saúde, especialmente aquelas de baixa renda e que vivem em comunidades rurais", assinalou Jen.

Leis de aborto nos EUA

Políticos de direita lançaram um ataque frontal ao aborto, um tema que divide profundamente os Estados Unidos e é importante para os eleitores.

Um total de 1.844 medidas relacionadas à contracepção e ao aborto foram introduzidas em 46 estados entre 1º de janeiro e 15 de março, segundo o Instituto Guttmacher, que defende o direito ao aborto.

Deputados de estados do sul, liderados por republicanos, introduziram leis que endurecem as restrições ao aborto, enquanto deputados em estados governados por democratas aumentaram as medidas que protegem o direito da mulher a decidir.

A Suprema Corte, dominada por conservadores devido à indicação de três juízes pelo ex-presidente Donald Trump, está prestes a derrubar "Roe v. Wade", uma decisão histórica de 1973 que manteve o acesso ao aborto como um direito constitucional.

Veja os vídeos mais assistidos do g1