Britânicos enfrentam greves, inflação e, logo, racionamento de água

Britânicos enfrentam greves, inflação e, logo, racionamento de água
uase um terço da população britânica estará proibida de usar água com atividades como regar jardins, lavar carros, calçadas, pátios ou encher piscinas. A inflação no Reino Unido subiu mais do que era esperado e atingiu o maior patamar dos últimos 40 anos

Em meio a maior onda de greves dos últimos 30 anos, o Reino Unido agora se prepara racionar água. O país vive sua pior seca desde 1976. E a partir desta quarta-feira (24), restrições de consumo que já afetavam diversas regiões chegam a Londres e ao Vale do Tâmisa. Isso significa que quase um terço da população britânica estará proibida de usar água com atividades como regar jardins — uma paixão nacional —, lavar carros, calçadas, pátios ou encher piscinas.

Não bastassem a disparada do custo de vida, a maior onda de greve dos últimos anos e o fato de o país ainda não ter um primeiro-ministro para chamar de seu — o que só acontecerá em 5 de setembro —, a zona do racionamento de água está sendo ampliada e afetará mais 15 milhões de pessoas a partir desta semana.

A decisão foi tomada depois que as medições dos reservatórios locais baixaram a níveis críticos. A nascente do Tâmisa chegou a secar no auge do calor. Julho foi o mês mais seco da história do Reino Unido.

King Power Stadium em 20 de agosto de 2022

Craig Brough/Reuters

As paisagens sempre verdes deram lugar a parques e gramados alaranjados, empoeirados ou queimados por incêndios. Chamam a atenção os equipamentos de irrigação em atividade pelos campos para protegerem o que resta das plantações.

A expectativa é de que as restrições do uso de água reduzam o consumo em cerca de 10%. Pode não parecer um grande sacrifício, mas os ingleses são apaixonados por jardinagem, um “esporte nacional”.

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Férias em casa

Tudo isso só agrava a insatisfação geral. A proibição também afeta áreas de veraneio onde milhões de britânicos estão de férias nesse momento. Para tentar economizar e evitar a confusão dos aeroportos, centenas de milhares de britânicos optaram pelo chamado “staycation" — férias sem sair de casa.

Com as demissões realizadas pelas companhias aéreas por conta da pandemia, as contaminações dos funcionários remanescentes com Covid-19 e as previsões de greves também nos aeroportos, férias no exterior viraram um dor de cabeça para muitos.

Na semana passada, os funcionários das companhias de trem e metrô, neste país que tem as tarifas de transportes entre as mais caras do mundo, voltaram a cruzar os braços. A nova greve perturbou a rotina de centenas de milhares de cidadãos. Seus efeitos se estenderam pelo fim de semana.

Neste momento, quase 2 mil trabalhadores de Felixstowe, o maior porto de cargas do Reino Unido, também suspenderam as atividades. A paralisação de oito dias terá grande impacto sobre as operações do porto, que recebe aproximadamente 4 milhões de contêineres entregues por 2 mil navios por ano. Nada pior para uma nação que ainda vive uma crise de falta de mão-de-obra sem precedentes desde o Brexit.

Próximo primeiro-ministro

Nos últimos meses, supermercados têm se desculpado pela falta de produtos, que já não conseguem repor como antes. Há ainda no horizonte a greve dos correios, de enfermeiros, bombeiros, coletores de lixo e dos aeroportos.

O próximo primeiro-ministro tem uma longa lista de desafios para enfrentar neste verão europeu, que devem se complicar ainda mais com a chegada do inverno. Com a perspectiva de aumento de quase 200% no custo das contas de energia, o frio promete mais cobranças do novo premiê em um momento em que a inflação britânica já é mais alta do que a do Brasil.

O índice bateu 10,1% ao ano em julho, podendo chegar a 13% anualizados ainda em outubro, de acordo com as estimativas do Banco da Inglaterra, o banco central britânico.

Ainda mais pessimista, o banco americano Citi prevê que a inflação dos preços ao consumidor na Grã-Bretanha possa atingir um pico de 18% no início de 2023, nove vezes a meta estabelecida pelo Banco da Inglaterra, revelou um dos economistas do Citi nesta segunda-feira (22).

É preciso voltar a 1976 para encontrar uma taxa de inflação britânica acima de 18%.

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