Após 5 meses de trégua, Etiópia enfrenta novos combates na região do Tigré

Após 5 meses de trégua, Etiópia enfrenta novos combates na região do Tigré
Governo e rebeldes se acusam mutuamente pela retomada do conflito, que começou em 2020. Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed Ali, presta juramento durante sua cerimônia de posse no prédio do Parlamento em Adis Abeba, Etiópia, em 4 de outubro de 2021

REUTERS/Tiksa Negeri/File Photo

O exército da Etiópia e os rebeldes da Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF), partido que controla a região norte do país, voltaram a se enfrentar nesta quarta-feira (24), após 5 meses de cessar-fogo. Cada lado culpou o outro pela eclosão da luta, que começou na cidade de Kobo.

"Às 5 da manhã de hoje o TPLF atacou na Frente Oriental (...) efetivamente quebrando o cessar-fogo", disse o serviço de comunicações do governo, em comunicado. "Tornou-se um segredo aberto que eles (o TPLF) estão fazendo campanha para incriminar nosso exército."

Enquanto isso, o líder do TPLF, Debretsion Gebremichael, disse à comunidade internacional que "o processo de paz está sendo preparado para fracassar" e acusou o governo da Etiópia de tentar bloquear investigações sobre crimes de guerra, reter serviços-chave e bloquear a região.

Os combates são um golpe nas esperanças de negociações de paz entre o governo do primeiro-ministro, Abiy Ahmed Ali, e a Frente de Libertação Popular do Tigré. A União Africana, com sede em Adis Abeba, capital etíope, pediu uma "desescalada" e reafirmou seu "compromisso de trabalhar com as partes para concretizar um processo político de consenso".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se manifestou e afirmou estar "profundamente chocado e triste" pelo retorno da violência e pediu "veementemente o fim imediato das hostilidades e a retomada das negociações de paz" entre o governo e os rebeldes.

O conflito no Tigré começou em novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, enviou o exército para expulsar o governo regional, que refutava sua autoridade há meses e havia atacado bases militares na região. Desde então, os atritos se espalharam para as regiões vizinhas de Afar e Amhara e, em novembro do ano passado, o TPLF marchou em direção a Adis Abeba, mas foi repelido por uma ofensiva do governo.

Em março, o governo declarou trégua humanitária, tendo em vista os graves impactos do conflito no Tigré. De acordo com a ONU, por exemplo, quase 90% das pessoas na região norte da Etiópia precisam de ajuda: segundo a entidade, as taxas de desnutrição "dispararam" e a situação vai piorar até a colheita de outubro.

Recentemente, o governo de Abiy Ahmed Ali, que, em 2019, recebeu o Prêmio Nobel da Paz, formou um comitê para negociar com o TPLF, mas afirmou que queria conversar "sem pré-condições". O Tigré, entretanto, pediu a restauração dos serviços aos civis antes do início das negociações, um apelo apoiado por diplomatas.

Isso porque, desde a retirada dos militares no fim de junho, a área está sem serviços bancários e de comunicação. Além disso, as importações de combustível foram restringidas, limitando a distribuição de ajuda humanitária.