Pesquisadores desenvolveram células cerebrais em laboratório que aprenderam a jogar o videogame Pong, o jogo que deu origem à indústria de videogames há 5 décadas. Eles dizem que seu "minicérebro" é capaz de sentir seu ambiente e a reagir a ele.Em artigo na revista Neuron, Brett Kagan, da empresa Cortical Labs, afirma ter criado o primeiro cérebro "sensível" cultivado em laboratório. Outros especialistas descrevem o trabalho como "empolgante", mas dizem que chamar as células cerebrais de sencientes é ir longe demais.Senciência, palavra bastante usada em debates sobre ética animal, diz respeito à capacidade de vivenciar algo e desenvolver sentimentos específicos a partir de uma experiência.Mas Kagan diz: "Não encontramos um termo melhor para descrever". "Ele é capaz de receber informações de uma fonte externa, processá-las e responder em tempo real."Os minicérebros foram produzidos pela primeira vez em 2013, para estudar a microcefalia, um distúrbio genético em que o órgão nasce muito pequeno, e desde então têm sido usados para pesquisas sobre o desenvolvimento do cérebro.Mas esta é a primeira vez que eles são conectados com um ambiente externo e reagem a ele, neste caso um videogame. No Pong, o objetivo é mover uma barra na tela para evitar que a bola passe. A equipe de pesquisa cultivou as células cerebrais humanas a partir de células-tronco e de embriões de camundongos para formar uma coleção de 800 mil.Esse minicérebro foi conectado ao videogame por meio de eletrodos que indicavam de que lado a bola estava e a que distância da barra usada para rebater.Em resposta, as células produziram atividade elétrica própria e gastaram menos energia à medida que o jogo prosseguiu.Mas, quando a bola passou e o jogo recomeçou com a bola em um ponto aleatório, eles gastaram mais energia se recalibrando para uma nova situação imprevisível.O minicérebro aprendeu a jogar em cinco minutos. Muitas vezes errava a bola, mas sua taxa de sucesso ficou bem acima do acaso.Embora, por não ter consciência, o minicérebro não saiba que está jogando Pong da mesma maneira que um jogador humano, enfatizam os pesquisadores. Para que isso serve?Kagan espera que a tecnologia possa vir a ser usada para testar tratamentos para doenças neurodegenerativas, como Alzheimer."Quando as pessoas olham para tecidos [humanos] em um laboratório, estão vendo se há atividade ou não. Mas o objetivo das células cerebrais é processar informações em tempo real", diz ele. "Avaliar sua verdadeira função pode se útil para muitas outras áreas de pesquisa."Em seguida, Kagan planeja testar o impacto que o álcool tem na capacidade do minicérebro de jogar Pong.Se reagir de maneira semelhante a um cérebro humano, isso demonstraria o quão eficaz pode vir a ser como um substituto.A descrição de Kagan de seu sistema senciente, no entanto, difere de muitas definições de dicionários, que afirmam que isso significa ter a capacidade de ter sentimentos e sensações.Dean Burnett, pesquisador da Cardiff Psychology School, no Reino Unido, prefere o termo "sistema de pensamento"."Existem informações sendo recebidas e claramente usadas, causando mudanças, então, o estímulo que eles estão recebendo está sendo 'pensado' de maneira básica", diz ele.É provável que os minicérebros se tornem mais complexos à medida que a pesquisa progrida, mas a equipe de Kagan está trabalhando com bioeticistas para garantir que eles não criem acidentalmente um cérebro consciente, com todas as questões éticas que poderiam surgir a partir disso."Temos que enxergar essa nova tecnologia como algo muito parecido com a indústria de computadores quando os primeiros transistores eram protótipos malfeitos, não muito confiáveis, mas, depois de anos de pesquisa, levou a maravilhas tecnológicas em todo o mundo", diz ele.Pesquisadores de inteligência artificial já produziram dispositivos que podem vencer grandes mestres no xadrez.Mas Karl Friston, da University College London, no Reino Unido, que está trabalhando com Kagan, disse: "O minicérebro aprendeu sem ser ensinado e, portanto, é mais adaptável e flexível".- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63153180
MINICÉREBRO cultivado em laboratório joga videogame Pong, sente e reage em tempo real
O cérebro é a alma humana materializada. O resto é carcaça. Preservar o cérebro é garantir a continuidade da inteligência útil. Pesquisadores desenvolveram células cerebrais em laboratório que jogam e sentem seu ambiente, reagindo a ele.