Formação de médicos tem que mudar para fazer frente aos desafios da medicina sexual

Formação de médicos tem que mudar para fazer frente aos desafios da medicina sexual
Pacientes LGBTQIA+ ainda sofrem com preconceito e falta de inclusão em ensaios clínicos Com esta coluna, encerro minha cobertura (e reflexões) sobre o 23º. Congresso da Sociedade Internacional de Medicina Sexual. Quem quiser conferir o que já foi publicado pode clicar nos links para ler os textos de quinta-feira passada, domingo e terça. Depois de assistir a diversas apresentações, está claro para mim que a formação dos médicos precisa de uma profunda reformulação, para fazer frente à complexidade das questões sexuais que emergem e, principalmente, assegurar um tratamento sem preconceitos que respeite a diversidade.

O urologista Aria Olumi, professor da Harvard Medical School

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Na aula do urologista Aria F. Olumi, professor da Harvard Medical School, foi apontada a desigualdade que os pacientes transgênero (que não se identificam com seu sexo biológico) enfrentam. Ao abordar o câncer de próstata de mulheres trans, ele analisou como lidar com tal diagnóstico é capaz de disparar preconceitos profundos: “o número de mulheres trans com câncer de próstata vai aumentar e os critérios para os ensaios clínicos têm que se tornar mais flexíveis, para garantir diversidade. Também devemos trabalhar com uma linguagem mais inclusiva e educar os profissionais de saúde para entender as necessidades desse grupo”.

Em 2016, nos Estados Unidos, 1.4 milhão de indivíduos se declaravam trans, o equivalente a 0.5% dos adultos norte-americanos e o dobro do que havia em 2011. O risco de suicídio nesse grupo é 27 vezes maior do que no restante da população.

Coube a Darryl Mitteldorf, assistente social e diretor-executivo do Malecare and The National LGBT Cancer Project, mostrar como está distante um atendimento humanizado para casais LGBTQIA+ quando uma das pessoas é diagnosticada com câncer. Lembrando que o casamento entre indivíduos do mesmo sexo só se tornou legal em todo o território dos EUA em 2015, afirmou que o câncer amplifica o estigma:

“Embora não tenha sido o fato de ser LGBT que causou a doença, muitos pacientes se sentem desrespeitados, como se tivessem que dar explicações sobre sua vida sexual”.

Darryl Mitteldorf, assistente social e diretor-executivo do Malecare anda The National LGBT Cancer Project

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Ele enfatizou a importância de os médicos serem treinados para atender o casal gay da mesma forma que um hetero – comportamento que deve ser estendido à equipe inteira. “Se o paciente está acompanhado, permita que ele explique a natureza daquele relacionamento. Se estiver sozinho, pergunte sobre seu estilo de vida e pessoas próximas. Pessoas LGBT têm esposos e esposas, filhos, amigos e parentes. No fim do tratamento, quando se fala de reabilitação sexual, o foco ainda é heterossexual, por isso é tão importante uma conversa franca no consultório”, ensinou.