Imax com inteligência artificial vai tornar sua TV obsoleta

Imax com inteligência artificial vai tornar sua TV obsoleta

Richard Gelfond, CEO da Imax

Era para ter sido um período de férias.

Em fevereiro de 2020, algumas semanas antes de a pandemia causar danos imensos em seu império mundial de salas de cinema, o CEO da Imax, Richard Gelfond, voou até a ilha caribenha de São Bartolomeu para visitar seu amigo Daniel Nadler. Em 2013, Nadler havia fundado a Kensho, uma fintech movida a inteligência artificial que ele venderia à S&P Global por US$ 550 milhões em 2018. Depois de alguns anos atuando como executivo na S&P, Nadler se afastou do mundo dos negócios para curtir a vida na ilha.

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Porém, para Nadler – que durante um doutorado em econometria em Harvard lançou a Kensho e publicou um livro de poemas –, a vida na ilha tem pouco a ver com redes e coquetéis de coco. O novo hobby de Nadler era criar arte com ajuda de IA sob o pseudônimo de Daniel Wallace. Suas obras usavam o aprendizado de máquina para criar imagens em ultra-alta definição de pessoas que nunca existiram e estátuas realistas impressas em 3D. A tecnologia necessária para seu novo hobby ainda não existia. Inspirado na Industrial Light and Magic de George Lucas, Nadler fundou uma empresa de efeitos visuais chamada Maximus para desenvolver ferramentas tecnológicas.

Em St. Barth, Nadler mostrou a Gelfond sua arte de ultra-alta resolução. “O Rich perguntou: "Isso que acabou de me mostrar, você acha que a tecnologia seria capaz de exibir o Superbowl em ultra-alta definição em tempo real?"”, conta Nadler. A ida à praia logo virou uma viagem de negócios.

“Ficou óbvia a combinação da tecnologia Imax com o rumo que o mundo estava tomando e também a realidade de que tínhamos muito em comum com o Daniel e com o que a equipe dele vinha fazendo com a inteligência artificial”, diz Gelfond. “Percebemos que precisávamos fazer um negócio juntos.”

O negócio é a Imax AI, uma joint venture entre a Imax e o estúdio Maximus, de Nadler. A empresa vai aliar a tecnologia, os dados e a biblioteca de imagens da primeira ao machine learning da segunda para criar TVs capazes de exibir programação ao vivo, fazendo streaming de programas e filmes (novos e antigos) em ultra-alta definição. Apesar de Gelfond e Nadler terem revelado a nova empresa no dia 11 de março, eles permanecem reticentes sobre os detalhes do produto e as datas de lançamento.

A dupla diz que a nova empresa desenvolverá em breve dois produtos principais. O primeiro será uma marca de TVs ultra-avançadas voltadas ao segmento mais abastado da clientela de home theater. O segundo será um software que eles poderão licenciar para marcas como Samsung e LG para levar a verdadeira alta definição às massas. “É o modelo da Nvidia”, diz Nadler, referindo-se à gigante dos computadores. “Eles fazem os supercomputadores mais avançados que você pode comprar e também os chips das máquinas para os usuários comuns.”

Embora você possa ter uma TV de alta definição, tipo 4K, a maioria das séries, esportes e filmes a que você assiste nela é gravada e transmitida em qualidade inferior. A filmagem e a edição em 4K são caras e demoradas; o mesmo vale para a remasterização de filmes mais antigos.

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A Imax AI pretende usar sua potência computacional para melhorar instantaneamente a qualidade de imagem de qualquer conteúdo – assim como o software do seu smartphone é capaz de melhorar uma foto de maneira automática. Como? Ao treinar algoritmos com milhões de imagens, o software é capaz de identificar objetos, suavizar o vídeo e torná-lo mais nítido, preenchendo as lacunas. Explicando de forma bem simples, trata-se de uma versão de alta tecnologia de um quebra-cabeça cujas peças faltantes são preenchidas em tempo real.

Para Gelfond, a joint venture é crucial para diversificar seu produto e expandir sua marca dos cinemas para os lares. É um plano que está em andamento há algum tempo – e fica cada vez mais urgente com os enormes prejuízos causados pela Covid-19 no universo do entretenimento (as ações da Imax despencaram mais de 60% em março de 2020 e se recuperaram para os níveis pré-pandêmicos, com capitalização de mercado de US$ 1,3 bilhão.)

Nadler diz que a qualidade do software de IA depende da qualidade dos dados que você insere nele. Um dos motivos de ele ter vendido a Kensho, sua startup de fintech, à S&P Global foi o fato de a empresa de avaliações e pesquisas financeiras ter os melhores conjuntos de dados de economia do mercado. Ele vê a mesma oportunidade com seu novo parceiro. “Isso tem uma semelhança assustadora com o que fizemos na Kensho”, diz Nadler. “A Imax passou décadas desenvolvendo a principal marca do mundo em dados de imagem e imagens de ultra-alta definição.”

Ainda não se sabe quando os dados de imagem e o software de IA se transformarão em um produto comercializável. “Não será em um futuro distante. Somos duas pessoas famintas que veem uma oportunidade neste exato momento”, comenta Nadler. “O momento foi criado pela Covid, pelo streaming e pelas mudanças em como e onde as pessoas passam seu tempo. Estamos indo atrás de tudo com rapidez premeditada.”

Reportagem publicada na edição 85, lançada em março de 2021

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