Como startup da Embraer quer fazer futuras viagens de 'carro voador' serem mais baratas

Como startup da Embraer quer fazer futuras viagens de 'carro voador' serem mais baratas
Em entrevista ao g1, presidente-executivo da Eve adiantou que a empresa não vê os chamados eVTOLs como meios de transporte de luxo e que viagens com os veículos deverão custar pouco a mais que os táxis. Conceito de eVTOL da Eve, empresa da Embraer

Divulgação/Eve

A Eve, empresa da Embraer que está desenvolvendo um "carro voador", espera que as viagens com o veículo tenham preços mais parecidos com as de táxi.

Quem definirá valores serão operadores parceiros, mas a fabricante vê quatro fatores para acreditar que o serviço não será restrito a um público "VIP" como acontece hoje com helicópteros:

Energia elétrica dispensa o querosene de aviação e diminui custos – a expectativa é de que as baterias durem mais tempo no futuro, o que também reduziria custos de reposição;

Manutenção deverá ser mais barata, já que aeronave elétrica terá estrutura menos complexa do que a de helicópteros;

Capacidade aumentará para seis passageiros quando o veículo puder operar sem motorista, o que permitirá baixar preços das passagens;

Escala para suportar muitas viagens, o que ajudará a cobrir custos de infraestrutura do sistema de "carros voadores" e, consequentemente, deverá forçar os preços para baixo.

"A gente não tem buscado o serviço de luxo. Nosso foco é algo mais inclusivo", disse o presidente-executivo da Eve, André Stein, em entrevista ao g1.

O executivo fez a declaração no Web Summit, feira de tecnologia e inovação realizada em novembro, em Lisboa. Segundo ele, os preços podem cair pela metade com melhorias na aeronave, chamada oficialmente de eVTOL (sigla em inglês para "veículo elétrico de pouso e decolagem vertical").

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Um dos principais desafios para os "carros voadores" é ampliar a infraestrutura, o que inclui ajustes no controle de tráfego aéreo, compra de carregadores para aeronaves e a criação de vertiportos, locais de pouso e decolagem menores do que helipontos e que darão mais opções de destinos para viagens.

"Isso demanda um volume [de passageiros] e o próprio volume ajuda a manter os custos mais próximos do que é um modal terrestre. É isso que a gente está buscando", explicou Stein.

A ideia da Eve é criar uma aeronave que permita aos parceiros oferecerem viagens até 50% mais caras do que as de táxi. E, mesmo que o preço seja um pouco maior que isso, a empresa acredita que o voo com "carro voador" ainda será bem mais barato do que um com helicóptero.

André Stein, presidente-executivo da Eve, subsidiária de 'carros voadores' da Embraer

Divulgação/Eve

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A Eve não divulga preços estimados para as futuras viagens com sua aeronave. Em 2021, a empresa fez um teste de rota no Rio de Janeiro com bilhetes por R$ 99. O experimento usou helicópteros e serviu para entender como seria a operação com os "carros voadores".

Outras empresas também têm anunciado que seus "carros voadores" terão preços acessíveis. A Joby Aviation, uma das mais conhecidas do mundo, disse em 2021 que as viagens em seu eVTOL custarão US$ 3 por milha (cerca de R$ 15 a cada 1,6 km), o que é comparável com serviços como Uber.

Segundo Stein, a aeronave da Eve terá autonomia para cobrir toda a região metropolitana de São Paulo e será uma alternativa para situações específicas.

"A gente não tem a pretensão de resolver o problema de trânsito na cidade. A ideia é justamente trazer mais uma opção para as pessoas, e não necessariamente algo para você usar todo dia para ir para o trabalho", afirmou.

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Daniel Ivanaskas/Arte g1

Preço não será definido pela Eve

Os valores serão definidos por empresas parceiras, como as que vão operar os veículos, administrar pontos de pouso e decolagem e vender o serviço em uma plataforma própria, como um aplicativo.

"O preço da passagem vai depender do operador e do mercado porque parte do preço não é só o custo de operação", afirmou Stein. Isso porque mão de obra e infraestrutura, por exemplo, são despesas que podem variar de um local para o outro.

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Divulgação/Embraer

Veículo autônomo fica mais barato

A aeronave da Eve está sendo planejada para estar o mais preparada possível para direção autônoma quando estiver pronta, mas ela não será usada no início. A ideia é reunir dados sobre os voos e, então, trabalhar com órgãos regulatórios para aprovar um modelo sem piloto.

A tendência é que essa alteração também ajude a baratear passagens. "Esse mesmo veículo de quatro assentos mais o piloto poderia chegar a seis, porque você tira o piloto e o cockpit", disse Stein. Mas o executivo adianta que a mudança não acontecerá de um dia para o outro.

"A expectativa é que as duas coisas [eVTOLs com e sem piloto] convivam por um bom tempo, não só em países diferentes como mesmo dependendo do operador [no mesmo país]. Um poderá preferir ter o piloto, outro já ir para o autônomo".

Em que pé está?

No momento, a Eve já atua com órgãos regulatórios como a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) pensando na certificação da aeronave. E, segundo a empresa, o objetivo principal não é ser a primeira a colocar um "carro voador" em operação, e sim, entregar a melhor aeronave.

"Existem muitos desafios na parte de certificação", disse Stein. "Baseado na nossa experiência, a gente foi um pouquinho mais assertivo. Essa é uma das razões que a gente está um pouquinho depois [do que outras empresas]".

* O jornalista viajou a convite da Siemens.

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