Após ataques em Jerusalém, Israel revoga direitos de 'famílias terroristas' e debate armar civis

Após ataques em Jerusalém, Israel revoga direitos de 'famílias terroristas' e debate armar civis
Governo anunciou medidas na noite de sábado (28) em reação aos ataques dos dois últimos dias em Jerusalém. Atentados foram reação a operação israelense na Cisjordânia que terminou com nove mortos. Ataque terrorista em sinagoga deixa 7 mortos em Jerusalém

O gabinete de Segurança de Israel anunciou, na noite de sábado (28), medidas contra "famílias terroristas" após dois ataques em Jerusalém Oriental. Um deles, na noite de sexta-feir (27).

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu havia prometido uma resposta "forte" e "sólida" a esses ataques perpetrados por dois palestinos de Jerusalém Oriental, parte da Cidade Santa ocupada e anexada por Israel.

Sete civis, incluindo um casal e um menino de 14 anos, morreram em um dos atentados, na noite de sexta-feira (27), em Neve Yaacov.

Ao final de uma reunião, na noite de sábado, o gabinete de Segurança israelense anunciou:

A revogação dos direitos à Segurança Social de "famílias de terroristas que apoiam o terrorismo";

Um projeto de lei que visa revogar as "carteiras de identidade israelenses" para esta mesma categoria de famílias - a proposta será discutida na segunda-feira (30) no Conselho de Ministros;

Facilitar a obtenção de licenças para a compra de armas a civis israelenses (leia mais abaixo).

Netanyahu voltou ao poder em dezembro com o apoio de partidos judeus de extrema direita e ultraortodoxos, e essas medidas provavelmente se aplicarão principalmente aos palestinos com nacionalidade israelense (árabes israelenses, de acordo com a classificação dada por Israel) e palestinos de acordo com o estatuto de residente de Jerusalém Oriental.

Ataques não reivindicados

Na noite de sexta-feira, um palestino de 21 anos atirou contra pessoas que passavam perto de uma sinagoga no bairro de assentamento de Neve Yaacov, matando sete pessoas antes de ser baleado.

Já na manhã de sábado, um palestino de 13 anos atirou e feriu dois israelenses em Silwan, a poucos passos das muralhas da Cidade Velha.

Nenhum desses dois ataques foi reivindicado.

Profissionais do serviço de emergência perto de mortos em Jerusalém, em 27 de janeiro de 2023

Ahmad Gharabli / AFP

Três das vítimas do tiroteio em Neve Yaacov foram enterradas durante a noite de sábado: Asher Natan, um adolescente de 14 anos, e Eli e Natalie Mizrahi, um casal baleado enquanto tentava ajudar as primeiras vítimas do ataque, de acordo com o depoimento de um vizinho.

Este novo episódio de violência ocorre em um cenário de escalada repentina após a morte, na quinta-feira (26), de nove palestinos, incluindo combatentes e uma idosa de 60 anos, em uma invasão do exército israelense em Jenin, na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967.

As forças israelenses foram colocadas em alerta máximo, e o Exército anunciou que fortalecerá suas tropas na Cisjordânia, já que os pedidos de contenção se multiplicaram no exterior.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, é esperado em Jerusalém e Ramallah na segunda (30) e terça-feira (31) para discutir medidas para a desescalada de violência.

Civis armados

O gabinete de Segurança de Israel também decidiu facilitar a obtenção de licenças para armas.

"Quando os civis têm armas, eles podem se defender", declarou o ministro de extrema direita da Segurança Interna, Itamar Ben Gvir.

Novo ataque em Jerusalém deixa dois feridos

No bairro palestino de Silwan, o agressor, armado com uma pistola, feriu um pai e seu filho soldado, de 47 e 23 anos respetivamente, de acordo com informações da polícia e os serviços de salvamento, antes de ser ferido por civis armados e depois detido.

O ataque a Neve Yaacov, perpetrado na noite do Dia Mundial da Memória do Holocausto, gerou indignação na Europa e nos Estados Unidos, além da condenação de governos árabes ligados a Israel, como Egito, Jordânia e Emirados Árabes Unidos.

A imprensa israelense e palestina identificaram o agressor como Khayri Alqam, alguém amplamente elogiado em nas redes sociais em língua árabe.

Temor de nova Intifada

Chamando o ataque de um crime "particularmente hediondo", o secretário-geral da Organização das Nações Unidas ( ONU), Antonio Guterres, disse estar "profundamente preocupado com a escalada da violência".

A Autoridade Palestina se absteve de condenar os casos e julgou que Israel era "totalmente responsável pela perigosa escalada".

A operação militar israelense em Jenin, na Cisjordânia, na quinta-feira, foi apresentada por Israel como uma ação preventiva contra uma célula do grupo armado palestino Jihad Islâmica. A noite seguinte foi marcada por disparos de foguetes de Gaza contra Israel e ataques israelenses neste microterritório. Não houve vítimas.

O deputado israelense da oposição, Mickey Levy, afirmou temer “o que aconteceu há 20 anos (começar a) acontecer agora” em uma referência à Segunda Intifada, a revolta palestina de 2000 a 2005.

Em Tel Aviv, algumas dezenas de milhares de pessoas, muito menos do que nos dois sábados anteriores, se manifestaram contra o governo e seu contestado projeto de reforma do sistema judiciário. Os manifestantes marcaram um minuto de silêncio em memória das vítimas de Neve Yaacov.