Desde agosto do ano passado, o BC mantém a taxa Selic (juros básicos da economia), em 13,25% ao ano. A reação dos membros do governo varia.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem dito que a redução da Selic não é fácil porque houve um "deslocamento de demanda" em relação a bens. "A gente tenta suavizar o ciclo. A gente olha para frente. A gente entende que os juros altos causam esses impactos na parte produtiva. A gente tenta suavizar isso, porque o nosso trabalho é fazer isso na forma que cause o mínimo de dano possível a economia", destacou o presidente do BC em apresentação nesta semana a um banco de investimentos.
Postura
A postura do governo em relação ao Banco Central divide os especialistas. Para o professor do Departamento de Economia e de pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Nassif, as críticas são acertadas porque a atuação do BC impede a retomada econômica. "Eu me sinto um pouco desapontado em relação aos 100 primeiros dias. Existem travas institucionais, principalmente por parte do Banco Central, que reduzem a autonomia do governo para fazer uma política que gere empregos", diz.
Professora emérita de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Matesco contesta e diz que a postura da autoridade monetária é acertada. "Qualquer outra política para combater a inflação fora da política monetária [aumento de juros] é paliativo. Quando o presidente da República fica batendo no Banco Central, ele só piora a situação", critica.
Segundo ela, cada declaração do Presidente da República contra a política monetária provoca turbulências no mercado financeiro. "É como se o presidente estivesse pagando [por meio de oscilações no dólar e nos juros futuros] para criticar o Banco Central", compara.
Emprego e renda
Enquanto o governo está em compasso de espera, a economia sente os efeitos da desaceleração. A criação de empregos com carteira assinada nos dois primeiros meses do ano atingiu o nível mais baixo para o período desde 2020. A taxa de desemprego, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, caiu para 8,6% no trimestre encerrado em fevereiro, mas o recuo deve-se à criação de vagas com baixos salários.
No curto prazo, dizem os especialistas, a única alternativa para destravar o mercado de trabalho depende da retomada dos investimentos públicos.
Nassif é mais pessimista e diz que os investimentos para gerar empregos dependem, neste momento, da queda de juros. "Não há outra solução que não passe pela redução dos juros o mais rápido possível. A inflação no Brasil não é de demanda, mas de choques nos preços de combustíveis e de alimentos provocados pela retomada da economia global no pós-pandemia e a guerra na Ucrânia", declara.