Facções no Sudão concordaram com cessar-fogo enquanto estrangeiros são retirados do país, dizem EUA

Facções no Sudão concordaram com cessar-fogo enquanto estrangeiros são retirados do país, dizem EUA
O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse que o acordo foi fechado após dois dias de intensas negociações e começará na terça-feira (25). Os dois lados não cumpriram vários acordos temporários de trégua ao longo da última semana. Fumaça na capital do Sudão, Cartum

Maheen S via AP

Os EUA disseram nesta segunda-feira (24) que as facções em conflito no Sudão concordaram com um cessar-fogo de 72 horas, enquanto países ocidentais, árabes e asiáticos se mobilizam retirar seus cidadãos do país africano.

O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, disse que o acordo foi fechado após dois dias de intensas negociações e começará na terça-feira (25). Os dois lados não cumpriram vários acordos temporários de trégua ao longo da última semana.

O conflito entre as Forças Armadas do Sudão (SAF, na sigla em inglês) e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) já deixou ao menos 427 pessoas desde o dia 15 de abril.

“Durante esse período, os EUA pedem que a SAF e o RSF cumpram completa e imediatamente o cessar-fogo", disse Blinken, em um comunicado.

Ele disse que os EUA coordenarão, com parceiros regionais e internacionais e com as partes civis interessadas do Sudão, a criação de um comitê que supervisionaria um cessar-fogo permanente.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a violência em um país que flanqueia as regiões do Mar Vermelho, do Chifre da África e do Sahel “representa o risco de uma conflagração catastrófica que pode envolver toda a região e além”.

Dezenas de milhares de pessoas, incluindo sudaneses e cidadãos de países vizinhos, fugiram nos últimos dias para Egito, Chade e Sudão do Sul, apesar da instabilidade e das condições de vida difíceis nesses lugares.

O conflito

Iniciados no sábado (15), os combates na capital do Sudão, Cartum, e nas cidades vizinhas de Omdurman e Bahri são os piores em décadas. Especialistas temem que o conflito divida o país entre as duas facções militares que compartilharam a liderança sudanesa durante a transição política nos últimos anos.

Estes grupos são:

O exército, liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, que é comandante das forças armadas; e

Um grupo paramilitar, comandado pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, que é chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF).

Em 2021, as duas facções, então aliadas, orquestraram um golpe militar no país, que passava por um período de instabilidade desde 2019, quando o então líder do país, Omar Bashir, foi destituído do poder após protestos generalizados. Com isso, al-Burhan passou a liderar um conselho de governo e Dagalo, conhecido como Hemedti, se tornou seu vice.

No entanto, desde então, diversos atritos surgiram entre os grupos, principalmente quanto à integração da RSF nas forças armadas e na futura cadeia de comando. Além disso, as facções divergem acerca do apoio a partidos políticos e a grupos pró-democracia.

Quando os combates começaram em 15 de abril, ambos os lados culparam o outro por provocar a violência. O exército acusou a RSF de mobilização ilegal nos dias anteriores, e a RSF disse que o exército tentou tomar o poder total em uma conspiração com partidários de Bashir.