Polícia de Hong Kong prende executivos durante operação em jornal pró-democracia
Governo chinês tem ampliado o controle sobre o território autônomo a restringido a liberdade de imprensa desde a aprovação da lei de segurança nacional, em 2020. Policiais fazem operação na sede do jornal pró-democracia Apple Daily, em Hong Kong, na China, em 17 de junho de 2021Apple Daily via ReutersA polícia de Hong Kong fez uma operação nesta quinta-feira (17), pela segunda vez em menos de um ano, na redação do jornal pró-democracia "Apple Daily" e prendeu cinco executivos.Entre os detidos com base na lei de segurança nacional estão o diretor de redação, Ryan Law, que alertou que a liberdade de imprensa "está por um fio" no território chinês, e o diretor-geral, Cheung Kim-hung.Todos foram detidos por "conspiração com um país estrangeiro ou com elementos externos para colocar em perigo a segurança nacional", segundo a polícia.As autoridades também congelaram bens avaliados em US$ 2,3 milhões (mais de R$ 11 milhões) do "Apple Daily", que transmitiu ao vivo a operação em sua sede (veja mais abaixo).Lei de segurança nacionalHong Kong foi um território britânico até 1997, quando o Reino Unido assinou um acordo para devolvê-lo à China. O acordo, no entanto, previa a preservação da autonomia da região.Mas isso tem cada vez mais desrespeitado pelo governo comunista chinês, principalmente depois dos protestos de 2018 em Hong Kong por mais liberdade política e menos intervenção chinesa.A lei de segurança nacional foi aprovada em 2020, sem passar pelo parlamento de Hong Kong, e foi incorporada à "Lei Fundamental" do território, que serve desde 97 como uma "mini-Constituição".Ela criminalizou grande parte da oposição e deu às autoridades amplos poderes de investigação. Além disso, as pessoas condenadas sob a nova lei podem receber penas de prisão perpétua.A China afirma que a lei é necessária para devolver estabilidade a Hong Kong, mas os críticos, incluindo vários países ocidentais, alegam que a repressão acabou com a promessa chinesa de que a cidade permaneceria com certas liberdades e autonomia após a sua devolução em 1997.A lei visa reprimir o "separatismo", o "terrorismo", a "subversão" e o "conluio com forças externas e estrangeiras", e o jornal é considerado um problema por Pequim por apoiar abertamente o movimento pró-democracia na cidade.A operaçãoAs prisões desta quinta representam mais um revés para o popular tabloide e seu proprietário, o bilionário Jimmy Lai, que é uma das principais figuras ligadas ao movimento pró-democracia e tem sido alvo de vários processos.Jimmy Lai é detido em Hong Kong em 10 de agosto de 2020AP Mais de 500 policiais participaram da operação, relacionada a artigos publicados pelo "Apple Daily" que pediam "sanções" contra Hong Kong e autoridades chinesas.É a primeira vez que o conteúdo de um artigo motiva detenções com base na lei de segurança nacional imposta por Pequim.Em uma mensagem aos leitores, o Apple Daily afirmou que a "proteção da liberdade de imprensa em Hong Kong está por um fio". "Todos os membros do Apple Daily permanecem de pé e firmes".O sindicato de jornalistas da publicação classificou a operação de "violação gratuita da liberdade de imprensa".Funcionários trabalham na redação do jornal 'Apple Daily', em Hong Kong, em 17 de junho de 2021, após a polícia de Hong Kong prender o editor-chefe e mais 4 executivos do jornal pró-democraciaAnthony Wallace/AFPBilionário condenado e presoÉ a segunda vez em menos de um ano que a polícia entra na redação do "Apple Daily". Seu dono, Jimmy Lai, foi acusado de conspiração após uma operação em agosto.O bilionário de 73 anos cumpre atualmente várias sentenças de prisão por participar das manifestações pró-democracia que abalaram Hong Kong em 2019.O governo chinês não esconde o desejo de silenciar o jornal. Com frequência, a imprensa estatal chama Lai de "traidor".Mais de 100 pessoas já foram detidas com base na lei de segurança nacional, inclusive alguns dos ativistas pró-democracia mais conhecidos da cidade. Alguns fugiram para o exterior.No mês passado, o diretor de redação Ryan Law admitiu que o jornal estava em crise desde a prisão do proprietário, mas afirmou que os jornalistas estavam decididos a manter a publicação.Em uma reunião recente, a equipe consultou Law para saber o que deveria fazer caso ele fosse detido pela polícia. Ele respondeu apenas: "Transmitam ao vivo".VÍDEOS: as últimas notícias internacionais