Pessoas com hanseníase descrevem cenário de abandono no Colônia do Prata, em Igarapé-Açu, no Pará

Moradores da vila dizem que foram esquecidos pelo poder público e que estão sem remédios básicos, material de limpeza e curativos.

Moradores da vila dizem que foram esquecidos pelo poder público e que estão sem remédios básicos, material de limpeza e curativos. Afirmam ainda que médicos e enfermeiros só aparecem uma vez por semana. Internos hansenianos da Colônia do Prata denunciam abandono no local

Internos descrevem cenário de abandono na "Colônia do Prata", que há décadas abriga pessoas com hanseníase em Igarapé-Açu, no nordeste do Pará. Eles dizem que foram esquecidos pelo Estado e pelo Município e que estão sem remédios básicos, material de limpeza e curativos. Afirmam ainda que médicos e enfermeiros só aparecem uma vez por semana.

A Vila Santo Antônio do Prata já foi colônia agrícola que abrigava apenas pessoas com hanseníase. Fundada em 1924, chegou a receber 1.200 pessoas. A política de isolamento obrigatório dos contaminados pela doença acabou em 1986, mas ainda existem cerca de 150 remanescentes vivendo na comunidade.

O problema é que eles afirmam que sofrem com barreiras estruturais, como a péssima qualidade da água que abastece a vila.

José do Livramento Martins, que vive no local há 48 anos, é um dos internos que são obrigados a conviver com o líquido sujo que sai das torneiras. Ele foi internado compulsoriamente em 1975, aos 14 anos de idade.

Há cerca de dois anos, foi construída uma caixa d'água, mas a rede de distribuição, que não é trocada, é a mesma há quase 100 anos.

Sete pacientes que não têm vínculo familiar vivem isolados no abrigo. Os outros, que têm contato com parentes, moram na vila, mas reclamam da falta de assistência médica e social.

Uma das reclamações mais graves é que a 3ª Regional da Secretaria de Saúde Pública (Sespa) estaria deixando faltar remédios e até material de limpeza e curativo de ferimentos. Há ainda relatos de falte de material na farmácia.

Outro problema é o transporte. Os moradores dizem que não têm como fazer o tratamento fora de domicílio e que quando precisam de assistência médica ou exames em Belém têm que pagar caro pelo deslocamento. Igarapé-Açu fica distante quase 124 quilômetros da capital.

Mais uma situação que preocupa os internos é a demora na aquisição ou troca das próteses dos pacientes que já sofreram mutilações em decorrência da doença.

Todos os internos têm direito de receber cesta básica mensal, mas dizem que a distribuição tem deixado os pacientes em situação de vulnerabilidade alimentar. Desde 2020, eles dizem que só recebem três cestas por ano.

Outro lado

A diretora da unidade de saúde negou as denúncias mostradas pela reportagem.

Em nota, a Prefeitura de Igarapé-Açu disse que a distribuição de medicamentos é de responsabilidade da Unidade Básica de Saúde (UBS) do município, e que vem regularmente disponibilizando os remédios para a população, cumprindo as determinações do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Ministério da Saúde.

Sobre os curativos, a Sespa disse que o material é encaminhado pela Regional de Saúde, de acordo com a demanda.

Já as próteses necessitadas pelos internos são enviadas à Unidade de Referência Marcelo Candia.

Sobre as cestas básicas, a Sespa disse que estavam sendo fornecidas de forma regular, mas com o fim do contrato foi realizado um novo processo licitatório, que está em fase de conclusão, para contratação de empresa que vai fornecer alimentação para a "Colônia do Prata".

A respeito da presença da equipe médica, a Sespa afirmou que dispõe de clínico geral, pediatra, enfermeira e técnicos de enfermagem para atender os pacientes da unidade e, em caso de atendimento com profissional especializado, o paciente é encaminhado à Unidade Estadual de Referência via regulação estadual.

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