Trump cogitou confinar americanos infectados pelo novo coronavírus em Guantánamo

Trump cogitou confinar americanos infectados pelo novo coronavírus em Guantánamo
Livro reconstitui processo caótico e lutas internas na Casa Branca na gestão da pandemia. Donald Trump tira sua máscara protetora na Casa Branca, após retornar de uma hospitalização para tratamento da Covid-19, em outubro de 2020

Erin Scott/Reuters/Arquivo

O mau desempenho em público do ex-presidente Donald Trump na gestão da pandemia do novo coronavírus lhe custou a eleição. No privado, porém, a conduta parece ter sido pior. Entre ataques de fúria, diante da impossibilidade de barrar a disseminação do vírus, ele cogitou mandar para Guantánamo os americanos que contraíram Covid-19 no exterior e retornavam aos EUA.

A proposta abominável é revelada por dois repórteres do “Washington Post”, que reconstituíram num livro os bastidores da resposta da Casa Branca à maior epidemia do século. Numa reunião na Sala de Crise, em fevereiro de 2020, Trump foi claro, diante de seus incrédulos assessores, que discutiam se os americanos infectados deveriam voltar para casa: “Não temos uma ilha? Por que não Guantánamo? Nós importamos mercadorias. Não vamos importar o vírus.”

Donald Trump inaugurou um novo estilo de fazer política

O livro “Nightmare scenario: Inside the Trump administration"s response to the pandemic that changed history” (“Cenário de pesadelo: por dentro da resposta do governo Trump à pandemia que mudou a história”, na tradução livre) é resultado de 180 entrevistas realizadas por Yasmeen Abutaleb e Damian Paletta e será publicado na próxima semana.

São relatos de ex-funcionários de alto escalão sobre processos caóticos de decisão e acirradas lutas internas dentro da Casa Branca, assim como esforços para impedir que Trump agisse aleatoriamente, seguindo seus impulsos

A ideia de confinar doentes na malfadada base militar em Cuba onde os EUA mantêm prisioneiros suspeitos de terrorismo, sem julgamento, foi manifestada duas vezes pelo então presidente americano, de acordo com trechos do livro antecipados pelo “Post”.

Para grupos de direitos humanos, Guantánamo virou sinônimo de tortura e ilegalidade. Abriga atualmente 40 dos 700 presos com supostos vínculos com a al-Qaeda e o Talibã, que chegou a receber durante a Guerra ao Terror, fomentada pelo ex-presidente George W. Bush após o 11 de Setembro de 2001.

A promessa do ex-presidente Barack Obama de fechar a prisão esbarrou na resistência da oposição republicana e no temor de que o retorno dos presos a seus países representaria uma ameaça à segurança dos americanos. Doze anos depois de Obama, o atual presidente, Joe Biden, renovou os esforços para encerrar, de vez, o centro de detenção.

Quanto a Trump, não foi a primeira vez que imaginou outra função para Guantánamo. Publicado em 2019, o livro “A warning” (“O aviso”), de autor anônimo -- que depois soube-se ser Miles Tayler, ex-chefe de Gabinete do Departamento de Segurança Interna” -- revela que o ex-presidente cogitou classificar imigrantes como “combatentes inimigos” e mandá-los para Guantánamo. Com a pandemia, ele apenas reciclou a proposta.

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