É um golpe, diz Trump em julgamento por inflar ativos imobiliários

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É um golpe, diz Trump em julgamento por inflar ativos imobiliários
Ex-presidente dos EUA participou de primeira de uma série de sessões às quais ele deve comparecer durante a campanha presidencial. Donald Trump é réu em quatro casos. Trump chega para julgamento em Nova York

O julgamento civil de Donald Trump e de dois dos seus filhos, acusados de terem inflacionado durante anos o valor dos seus ativos imobiliários, começou nesta segunda-feira (2) em Nova York.

A sessão desta segunda-feira é o pontapé para uma maratona judicial que o ex-presidente norte-americano deve enfrentar até o ano que vem.

Este é um dos quatro casos nos quais Trump, favorito entre os republicanos para as eleições presidenciais de 2024, é réu atualmente nos Estados Unidos.

Na entrada do tribunal, ele acusou o juiz e o promotor do caso de intervenção eleitoral.

"Este caso tem a ver com intervenção eleitoral. É um golpe", disse durante um discurso de cerca de dez minutos a repórteres.

"Todo este caso é uma farsa!!!", escreveu o ex-presidente na sua plataforma Truth Social na noite de domingo (1º).

Embora não possa ser condenado à prisão por esta acusação, o julgamento será um prelúdio de uma série de processos judiciais que poderão prejudicar a sua campanha pela indicação republicana.

Ele já foi convocado a outras sessões judicias:

Trump deve comparecer ao tribunal federal de Washington em 4 de março para responder às acusações de tentativa de reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Joe Biden;

Em seguida, o ex-presidente comparecerá novamente ao tribunal em Nova York por fraude contábil;

Depois, irá à Flórida para responder em caso de suposta gestão negligente de documentos confidenciais após deixar a presidência.

O julgamento que começa nesta segunda-feira também ganhou mais importância na semana passada, depois que o juiz Arthur Engoron, que preside a sessão, decidiu que a "fraude contínua" foi comprovada.

Engorou afirmou também que o gabinete da Procuradoria-Geral do estado de Nova York já tinha provado que Donald Trump e os diretores do seu grupo haviam "supervalorizado" os seus ativos entre US$ 812 milhões e US$ 2,2 bilhões entre 2014 e 2021 (cerca de R$ 2,1 bilhões e R$ 12,2 bilhões).

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O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, chega para primeiro sessão de julgamento de caso de suposta fraude civil, em Nova York, em 2 de outubro de 2023.

Andrew Kelly/ Reuters

'Golpe duro'

Veja em quais processos Donald Trump é réu nos EUA

No caso que começou a ser julgado nesta segunda, o juiz ordenou a revogação das licenças comerciais no estado de Nova York de Donald Trump e de dois dos seus filhos, Eric Trump e Donald Trump Jr, vice-presidentes executivos da Trump Organization.

Ele também determinou o confisco das empresas que são alvo do processo, que serão confiadas aos liquidatários.

Se implementadas, as sanções representariam "um golpe duro na capacidade de Donald Trump de fazer negócios no estado de Nova York", afirmou o professor de Direito Comercial na Universidade de Michigan, Will Thomas, à agência de notícias AFP.

Donald Trump, que acumulou sua fortuna no setor imobiliário e nos cassinos na década de 1980 e prometeu administrar os Estados Unidos como as suas empresas, perderia então o controle de vários edifícios emblemáticos do seu grupo, como a Trump Tower, na 5ª Avenida de Manhattan.

As propriedades estão no centro das acusações da procuradora Letitia James: a superfície do apartamento do empresário na Trump Tower triplicou, e o edifício no número 40 de Wall Street foi supervalorizado entre US$ 200 e US$ 300 milhões (cerca de R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão).

A luxuosa residência da Trump Organization em Mar-a-Lago, na Flórida, e vários campos de golfe também aparecem no dossiê.

A procuradora pede ainda o reconhecimento de outras violações da legislação financeira e uma multa de 250 milhões de dólares (1,2 bilhão de reais na cotação atual).

Inúmeras testemunhas

Donald Trump sempre rejeitou as acusações e intensificou os seus ataques contra a procuradora James, uma democrata negra que ele chamou de "racista", e contra o juiz Engoron, a quem descreveu como "perturbado".

Na sua plataforma Truth Social, defendeu que os bancos credores foram reembolsados "na íntegra, com juros, sem dívidas e sem vítimas". A defesa também pretende lutar com unhas e dentes pela valorização dos ativos.

O julgamento promete ser muito técnico e espera-se que dezenas de testemunhas deponham, incluindo três dos filhos de Trump, Eric, Donald Jr e Ivanka. Esta última foi inicialmente alvo da denúncia, mas acabou não sendo indiciada.

Também devem depor o ex-diretor financeiro da Trump Organization, Allen Weisselberg, que cumpriu pena de prisão depois de se declarar culpado por fraude fiscal em outro caso contra o grupo.

As testemunhas incluem também o ex-advogado de Donald Trump, Michael Cohen, que se tornou um dos seus inimigos declarados, além de funcionários dos bancos credores e da empresa de contabilidade Mazars, que parou de trabalhar com a Trump Organization em 2021.