Ex-combatente da 2ª Guerra completa 100 anos em RR e recebe carta da rainha da Inglaterra

Ex-combatente da 2ª Guerra completa 100 anos em RR e recebe carta da rainha da Inglaterra
Ernest Hardy é de Manchester, na Inglaterra, e mora em Boa Vista há 52 anos. Após a 2º Grande Guerra, se mudou para a Guiana Inglesa, onde conheceu a esposa Juanita, da etnia Wapichana e, decidiu iniciar uma nova vida em Roraima. O casal foi o fundador de uma franquia de escola de idiomas na capital. Seu Ernest Hardy, completou 100 anos de vida na última segunda-feira (28)

Suzanne Oliveira/G1 RR

O ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, Ernest Hardy, completou 100 anos em Boa Vista, onde mora há 52 anos, e recebeu uma carta da rainha da Inglaterra, Elizabeth II, em parabenização ao centenário.

Natural de Manchester, na Inglaterra, Ernest se alistou ao exército britânico assim que completou 18 anos em 1939, mesmo período em que teve início o conflito militar.

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Por conta da idade, Ernest tem dificuldades de audição. Sua filha mais nova, Darell Hardy, é quem conta, com muito orgulho, a história de vida do pai. Segundo ela, após o fim da guerra, a Inglaterra ficou devastada. Por esse motivo, os militares foram incentivados a buscarem outros países para recomeçar a vida.

"Eles [combatentes] procuravam lugares que eram colônias da Inglaterra. No primeiro momento, ele pensou em ir a um país na Ásia. Mas por ser um período muito incerto, ele decidiu ir ao porto e entrar no primeiro navio que passasse. Por coincidência, o que passou foi o da Guiana Inglesa. Ele entra nesse navio, chega ao país e, depois, vai atrás de emprego, onde começa a trabalhar numa plantação de cana de açúcar", conta Darell.

Cópia da carta enviada pela rainha Elizabeth em alusão ao centenário do senhor Ernest. A original está com a família na Inglaterra.

Suzanne Oliveira/G1 RR

Conforme Darell, foi nessa plantação que Ernest conheceu a esposa Juanita, uma indígena da etnia Wapichana, filha de uma indígena com um estrangeiro, que estava no país para estudar. "Como ele mesmo disse, foi amor à primeira vista. Os dois se casaram em 1952 e tiveram 5 filhos".

Darell conta que, com o passar do tempo, o casal conseguiu abrir uma loja de eletrodomésticos na Guiana, mas tiveram que interromper o empreendimento em 1969, após o país conquistar a independência e fazer com que muitas pessoas deixassem o lugar.

"Minha mãe insistiu para que eles viessem para cá, porque ela falava português e era roraimense. Então, ela se sentiria mais segura de vir para Boa Vista. Aqui, tiveram que conseguir a documentação para ele permanecer e, depois disso, minha mãe começou a trabalhar como professora de inglês em muitas escolas e ele como massagista".

Em 1979, o casal fundou a Fisk, uma franquia de escola de inglês na própria casa. Darell conta que eles pegaram uma sala do imóvel, a dividiram ao meio e formaram duas turmas. Uma, ficou com Juanita e, a outra, com Ernest.

"Era tudo novidade, naquela época, você ter uma escola de inglês, uma franquia. Porque também tem que cobrar certos valores por causa da franquia. Então, nem o estado estava preparado para isso. Ali, foi uma oportunidade de eles conhecerem muita gente. Dali saíram muitos alunos e também grandes amigos que permanecem com a gente até hoje. Já vimos netos e até bisnetos de ex-alunos nossos, vindo estudar conosco, e isso é, realmente, gratificante", disse a filha.

Seu Ernest e a filha Darell

Suzanne Oliveira/G1 RR

Vídeos nas redes sociais

Ainda segundo Darell, quando Ernest completou 100 anos, na última segunda-feira (28), várias pessoas procuraram a família para saber se haveria celebração do centenário. No entanto, a filha informou que não houve festa, devido à pandemia de Covid-19. Nesse período, ele teve que ficar isolado em casa. O ex-combatente não foi vacinado contra o vírus, por problemas de saúde que o impediram de se imunizar.

"A minha filha teve a ideia de fazer uma rede social pra ele, onde ela conta toda a história dele. Porque muita gente pergunta como ele está, pois a gente sabe que nesse período, as pessoas de mais idade sofreram muito com isso", disse Darell.

A neta do militar e estudante de medicina, Wendy Hardy, é a responsável pela criação e administração das redes sociais do avô. Ao G1, ela contou que via vídeos de outras pessoas, achava legal e pensou em fazer vídeos dele.

Conta no Instagram foi criada por neta de Ernest

Reprodução/Instagram/ernesthardy1921

"Eu sempre postava algumas coisas com ele e muita gente aparecia e perguntava como ele estava, pedia para eu postar mais coisas, queriam visitá-lo. Então, resolvi criar uma conta só para ele, porque aí eu podia focar sempre nele, postar sempre coisas dele, e as pessoas poderiam segui-lo, curtir e interagir", contou Wendy.

De acordo com ela, os vídeos e comentários dos seguidores são mostrados aos avô nos momentos em que ele está mais lúcido. "Eu posso mostrar para ele, fazer com que ele leia os comentários, e isso o deixa muito feliz. Daí, coincidiu de começar a pandemia. Uniu o útil ao agradável porque, ao mesmo tempo que eu podia compartilhar com as pessoas, elas também não precisariam ir na casa dele visitá-lo, até para protege-lo", frisou a neta.

"Vai mexendo muito com a memória dele, com os sentimentos e isso, claro, faz muito bem para todos nós da família porque, o vendo feliz, também ficamos muito felizes", pontuou a neta informando que a família fez uma live da missa de celebração dos 100 anos e parte da família que mora na Inglaterra, pode acompanhar a comemoração.

A filha disse, ainda, que o pai tem seus momento de descontração em que faz piadas e que o considera um "verdadeiro Macuxi". "Ele ama paçoca. No dia do aniversário dele, por exemplo, ele pediu uma paçoca. Todo britânico gosta de um chá, mas ele troca por um cafezinho. Ele é um inglês abrasileirado e 'macuxizado', conta.

A neta de seu Ernest, Wendy, foi quem criou as redes sociais do ex-combatente

Suzanne Oliveira/G1 RR